Cavaco foi marcante e Passos ainda é desejado. Já Rio sairá sem grande história

O partido teve 18 líderes, mas nem todos com o mesmo peso político. Os que governaram, sobretudo Cavaco Silva, nos seus longos 10 anos de poder, foram os que maior lastro deixaram no PSD e no país. Rui Rio não conseguiu chegar lá e está de saída. Há dois candidatos à procura de um lugar na história social-democrata.
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O PSD, tal como o PS, é um partido em que há uma centralização da figura do líder e do seu poder, como diz o politólogo António Costa Pinto. Mas nem todos os presidentes sociais-democratas, os 18 que comandaram o partido, tiveram o mesmo peso e deixaram lastro ideológico.

Rui Rio é o terceiro com mais tempo de liderança - o primeiro é Aníbal Cavaco Silva e o segundo Pedro Passos Coelho - mas deixará um legado que perdurará no PSD, ainda que só possa reivindicar poucos ganhos eleitorais, como as legislativas dos Açores e simbólica conquista da Câmara de Lisboa?

"Rui Rio deixa uma marca no PSD como presidente da Câmara do Porto, tem história, mas como líder falhou os objetivos e foi atabalhoado na sua mensagem de não colocar o partido nem à esquerda nem à direita. Não deixa marca ideológica", considera José Adelino Maltez.

É certo que Rio propôs várias reformas, da Justiça ao sistema político, sendo que nenhuma delas vingou porque o PS teimou em manter-se no poder. Talvez a mudança mais marcante destes seis anos em que esteve ao comando da São Caetano à Lapa seja a de ter rejuvenescido a bancada parlamentar, que conta com muitos rostos novos de idade e na política.

António Costa Pinto sublinha, no entanto, que Rio - tal como Passos - é um "político que nasceu no partido, ligado à JSD" e que, por isso, terá sempre forte ligação às bases sociais-democratas.

Referência para todos é o fundador e primeiro presidente. Francisco Sá Carneiro criou os alicerces ideológicos que fizeram do PSD um dos dois maiores partidos portugueses.

Aníbal Cavaco Silva, numa mítica rodagem ao seu Citroën BX branco até à Figueira da Foz, onde decorria o congresso do PSD de maio de 1985, acabou por sair de lá líder (garantiu sempre que foi inesperado) e comandou-o durante uma década. Uma década que o tornou, consensualmente para os politólogos ouvidos pelo DN, o líder mais marcante do partido. Não só por ter ganho três legislativas (uma de maioria relativa e duas de maioria absoluta), mas também pela transformação que o país sofreu com a entrada na então Comunidade Económica Europeia.

"Depois de Sá Carneiro, Cavaco Silva é o líder mais marcante do partido. O cavaquismo marca o país e um ciclo da nossa história", afirma José Adelino Maltez. Que, por contraste, até considera todos os outros líderes quase como de "transição". Como Presidente da República, Cavaco passou à margem da vida interna do PSD.

É nesse quadro que inscreve outro dos presidentes sociais-democratas que chegaram ao poder, Durão Barroso, que acabou por deixar o governo em 2004 para se candidatar à liderança da Comissão Europeia. Desde então, Barroso nunca mais interferiu na vida interna do PSD e foram raros os momentos em que se envolveu nas atividades partidárias. Talvez até porque muitos sociais-democratas ficaram com azedo de boca, depois da transição do poder para Pedro Santana Lopes, no partido e no governo, ter corrido muito mal.

Jorge Sampaio aceitou Santana como primeiro-ministro, mas apenas o tolerou por seis meses. Dissolveu o Parlamento, caiu o executivo, e devolveu a palavra ao povo, que escolheu o PS de José Sócrates para liderar o país.

Recuando no tempo, em1995, após Cavaco Silva veio para a liderança um dos seus antigos ministros, Fernando Nogueira, sem aquecer o lugar. A que se segue Marcelo Rebelo de Sousa, que ganha o partido em 1996 no congresso de Santa Maria da Feira. O antigo líder do PSD, agora Presidente da República, não conseguiu chegar às legislativas - depois de ter falhado a Aliança Democrática com o CDS de Paulo Portas - mas marcou a vida do PSD e do país ao "impor" a António Guterres, primeiro-ministro de um governo minoritário do PS, os referendos da regionalização e do aborto, sendo que a sua visão política ganhou em ambos. A regionalização foi rejeitada e a interrupção voluntária da gravidez também nessa primeira auscultação popular.

Ao deixar a liderança do partido, Marcelo fez um trajeto sempre à margem, embora sempre com influência nos bastidores, como comentador televisivo. O que lhe deu rampa de lançamento para Belém.

Um percurso idêntico ao que outro dos líderes do PSD está a fazer, no caso Marques Mendes, como comentador televisivo. A grande marca de Mendes no PSD foi a introdução das eleições diretas para a liderança do partido. Hoje, conselheiro de Estado escolhido por Marcelo, é uma das vozes mais influentes do partido.

Pedro Passos Coelho, antigo líder da JSD, chegou mais tarde ao comando do partido. Já tinha sido vice-presidente de Marques Mendes mas afastou-se vários anos das lides políticas. Apanha o descontrolo financeiro do segundo governo, o minoritário de Sócrates, e em 2011 o poder caiu-lhe no colo, em pleno pedido de resgate do país. A sua liderança e governação ficam marcados pelos apertos da troika e os que quis ainda levar mais longe e que provocaram forte austeridade. Ainda assim, voltou a ganhar, em coligação com o CDS (como em 2011), as legislativas de 2015, só que a esquerda - PS, PCP e BE - teve a maioria e entendeu-se para a geringonça. Talvez seja por isso que o partido esteja sempre à espera que regresse e muito provavelmente recebê-lo-ia de braços abertos. "Se tiver vontade de voltar, ganharia o PSD mas não ganharia no país, que está muito marcado por aqueles anos", assegura José Adelino Maltez. Mas em 2015 ganhou? "Sim, mas o parceiro de coligação já não existe enquanto tal", afirma o politólogo. Ou seja, existe um CDS muito mais frágil, sem representação parlamentar e sem Paulo Portas.

Dos outros líderes que reza a história interna do partido, alguns com passagens breves, assinala-se que a única mulher a assumir o cargo foi o antiga ministra das Finanças de Cavaco Silva, Manuela Ferreira Leite, que não foi bem sucedida na conquista do poder.

Batem-se agora pela sucessão de Rui Rio, a 28 de maio, dois militantes com percursos muito diferentes: Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva. Andam no terreno à procura do seu espaço na história social-democrata e vão cruzar-se pelo menos duas vezes. A primeira já no sábado, na Academia de Formação Política das Mulheres Sociais-Democratas , em Vila Nova de Gaia. E a poucos dias das diretas do partido, vão participar num Conselho Nacional da JSD, a realizar em Chaves, em 21 de maio, onde Montenegro e Moreira da Silva se sujeitam às perguntas dos jovens sociais-democratas.

Sá Carneiro

Secretário-geral do PSD: 24 de novembro 1974 a 25 de maio 1975 | 28 de setembro 1975 a 31 de outubro 1976

Presidente do PSD: 31 de outubro 1976 a 10 de novembro 1977 | 2 de julho 1978 a 4 de dezembro 1980.

Primeiro-Ministro: 3 de janeiro 1980 a 4 de dezembro 1980

Emídio Guerreiro

Secretário-geral do PSD: 25 de maio a 28 de setembro 1975

António Sousa Franco

Presidente do PSD: 10 de novembro 1977 a 15 de abril 1978

José Menéres Pimentel

Presidente do PSD: 15 de abril 1978 a 2 de julho 1978

Francisco Pinto Balsemão

Presidente do PSD: 13 dezembro 1980 a 27 de fevereiro 1983

Primeiro-Ministro: 9 de janeiro 1981 a 9 de julho 1983

Nuno Rodrigues dos Santos

Presidente do PSD: 27 de fevereiro 1983 a 25 março 1984.

Carlos Mota Pinto

Presidente do PSD: 25 março 1984 a 10 fevereiro 1985

Primeiro-Ministro: 22 de novembro 1978 a 7 de julho 1979

Rui Machete

Presidente do PSD: 10 de fevereiro a 19 de maio 1985.

Aníbal Cavaco Silva

Presidente do PSD: 19 de maio 1985 a 19 de fevereiro 1995

Primeiro-Ministro: 6 de novembro 1985 a 25 de outubro 1995

Fernando Nogueira

Presidente do PSD: 19 de fevereiro 1995 a 31 de março 1996

Marcelo Rebelo de Sousa

Presidente do PSD: 31 de março 1996 a 1 de maio 1999.

José Manuel Durão Barroso

Presidente do PSD: 2 de maio 1999 a 30 de junho 2004

Primeiro-Ministro: 6 de abril 2002 a 17 de julho 2004

Pedro Santana Lopes

Presidente do PSD: 30 de junho 2004 a 10 de abril 2005

Primeiro-Ministro: 17 de julho 2004 a 12 de março 2005

Luís Marques Mendes

Presidente do PSD: 8 de abril 2005 a 12 de outubro 2007

Luís Filipe Menezes

Presidente do PSD: 12 de outubro 2007 a 20 de junho 2008

Manuela Ferreira Leite

Presidente do PSD: 20 de junho 2008 a 9 de abril 2010

Pedro Passos Coelho

Presidente do PSD: 9 de abril 2010 a 16 de fevereiro 2018

Primeiro-Ministro: 21 de junho 2011 a 26 de novembro 2015

Rui Rio

Presidente do PSD: Desde 16 de fevereiro 2018


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