Candidatos "amigos", mas a pedalar bicicletas diferentes para o PSD
Luís Montenegro rematou a sua intervenção na 7.a Academia de Formação das Mulheres Social-Democratas (MSD), em Gaia, a lembrar que "os dois candidatos à liderança do PSD", ele e Jorge Moreira da Silva "são amigos e respeitam-se mutuamente". O opositor nas diretas de 28 de maio, que também participou nesta iniciativa, não rejeitou a ideia da amizade, e de que se for eleito também unirá o partido, mas marcou bem a diferença. "Não acreditem quando vos dizem que somos amigos e é tudo igual, Montenegro tem uma bicicleta e eu tenho uma bicicleta e não salto para a dele".
E perante um plateia de mulheres social-democratas cada um deles comprometeu-se com um projeto para o partido e para o país, sendo que ambos se afirmaram "reformistas" e as críticas ao governo socialista foram partilhadas.
Luís Montenegro, o primeiro a intervir na Academia, lembrou o fraco crescimento económico do país, as desigualdades sociais e agora a "inflação galopante" que vai afetar as famílias portuguesas, para atacar o governo de António Costa. "O PS não gosta de mudar as coisas", disse e deu o exemplo da desadequação do sistema de ensino perante o mercado de trabalho.
Ao mesmo tempo o candidato à sucessão de Rui Rio tentava dissipar o carimbo de "PSD partido da austeridade" - que vem do tempo da troika e do governo de Passos Coelho, por contraponto ao PS. "O PSD não é o partido da austeridade, das restrições e para arrumar a casa. O PS tem-nos deixado num pântano (tempo de Guterres), na bancarrota (tempo de Sócrates) e agora com a carga fiscal, a pobreza e baixos salários".
Jorge Moreira da Silva bateu-se também por uma "oposição firme e com alternativa", com crítica forte ao Orçamento do Estado para 2022, que foi aprovado na passada sexta-feira como voto contra do PSD. "O candidato classificou-o de "absolutamente irrealista, impregnado de fingimento e sem contas certas" porque, assegurou, "a taxa de inflação não é real, é ficção". Acusou ainda o PS de se apresentar como o "partido das contas certas", mas feitas à custa "da destruição do Estado-Social".
Críticas feitas, ambos os candidatos à liderança do PSD destacaram o que projetam para o partido e o país. Luís Montenegro prometeu que se for eleito pegará no "batalhão" do PSD nas suas diferentes estruturas e representações nos órgãos de poder par ao ajudar a atrair as pessoas da sociedade civil com dinamismo. "O PSD fez-se sempre grande quando se abriu à sociedade", garantiu.
O candidato voltou a reiterar que até vê vantagem em não ser deputado porque, assegurou, tenciona andar por todos os concelhos a falar com os portugueses. E entre as propostas que levava alinhavadas, destacou um sistema de tributação para os mais jovens, entre os 25 e os 35 anos, com uma taxa máxima de 15%, tendo em vista a promoção de uma vida independente e a remoção dos obstáculos à natalidade.
Mas para combater a quebra demográfica, voltou a defender um plano de recrutamento e acolhimento de imigrantes, tal como um pacto nacional , que reuna partidos, academia e empresas para o combate às alterações climáticas, a transição digital e a competitividade.
Em resposta às mulheres sociais-democratas sobre o seu empenho na luta pela paridade, Montenegro assumiu que não vê "dessa forma" por exemplo a composição de um possível governo. O candidato disse que o que estará sempre em causa é a escolha dos melhores e "até podem ser mais mulheres".
Jorge Moreira da Silva, que destacou sempre o papel que teve no governo de Passos Coelho, como ministro do Ambiente, e mais tarde como diretor para o Desenvolvimento da OCDE, garantiu que "essa luta pela paridade" já vem de longe.
O candidato reportou-se à declaração do dia de António Costa que disse ser "intolerável" a pobreza laboral dos portugueses, para a subscrever, com a crítica de que essa situação é da responsabilidade dos governos socialistas. "É intolerável", disse e justificou a sua decisão de avançar para a corrida à liderança, deixando um cargo internacional. "Não podia falhar este momento, para renovar o PSD e oferecer a capacidade de Portugal para atingir o seu potencial", disse e acrescentou: "Tenho um plano para Portugal, a lançar uma vaga de reformas estruturais, que estudei e em que envolvi centenas pessoas ao longo de 10 anos".
É neste sentido ainda, que voltou a afirmar que terá um governo-sombra para dar a cara pela oposição ao governo e pelas propostas do PSD. Até porque entende que o líder de um partido que é candidato a primeiro-ministro deve dar a conhecer o governo que terá se ganhar as eleições.
"Para mim estar na política é ter pensamento próprio, autonomia de pensamento, ter condições para agregar a sociedade civil, liderar reformas e entregar o melhor resultado", frisou.
Ao partido prometeu ainda uma revisão das suas linhas programáticas, que processem todas as mudanças na sociedade. "O PSD não tem um problema de identidade, mas de modernidade", disse. Quer um partido com "cultura startup", com audácia e inconformismo, e orientado por causas.
paulasa@dn.pt