BE diz que luta pelo salário "é a única que pode trazer equilíbrio à economia"
Catarina Martins refere que há dados concretos na economia da zona Euro "que dizem que os processos de inflação não têm nada a ver com salários e não têm nada a ver com procura".
A coordenadora bloquista defendeu esta sexta-feira que a luta pelo salário "é a única que pode trazer equilíbrio à economia", considerando que a subida dos preços da alimentação ou energia resulta sobretudo do aumento das margens de lucro.
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"As conclusões dos dados da zona Euro são de que é o aumento das margens de lucro que neste momento continua a pressionar os preços da alimentação, os preços da energia, os preços dos bens essenciais em Portugal como no resto da Europa", disse Catarina Martins, na abertura de uma audição parlamentar sobre "Género e Igualdade Salarial".
Segundo a líder do BE, que citou notícias da agência Reuters sobre uma reunião do Banco Central Europeu (BCE), "há neste momento dados concretos da economia, e nomeadamente da economia da zona Euro, que dizem que os processos de inflação não têm nada a ver com salários e não têm nada a ver com procura".
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"O que nos dizem os dados da economia europeia, e que o BCE já dispõe, é que também não é a guerra na Ucrânia ou as quebras das cadeias de produção no pós-pandemia que justifica os níveis de inflação a que estamos a assistir em meios tão fundamentais como a energia ou a alimentação", referiu.
Admitindo que há mais custos por causa de quebras de cadeias de produção no pós-pandemia ou dos custos e dificuldades decorrentes da guerra na Ucrânia, Catarina Martins afirmou que "o custo maior e a maior diferença é mesmo o aumento das margens de lucro das grandes empresas".
"A luta pelo salário é a única luta que pode trazer equilíbrio à economia porque é única forma de colocar sensatez neste tempo completamente insensato, em que mesmo quem trabalha a tempo inteiro e tem um salário de acordo com a lei não consegue pôr comida na mesa", enfatizou.
Com o Dia Internacional da Mulher quase a chegar, Catarina Martins considerou que "este 08 de março pode ser mais uma manifestação, mais um momento de rua importante em tantos que estão a acontecer" por essa "reivindicação de salário".
"Para as mulheres é uma luta desigual porque há mesmo um teto de vidro", lamentou.
Devido à situação atual, o BE escolheu este ano fazer o debate sobre o salário em vésperas do 08 de março porque "o salário é mesmo neste momento uma luta de vida ou de morte", nas palavras da líder bloquista.
"As mulheres são mais precárias, têm menores salários e são mais expostas à pobreza e portanto quando o salário está nesta dificuldade, as dificuldades são ainda maiores para as mulheres", defendeu.
Reiterando o feminismo como "uma parte do ADN do Bloco de Esquerda", Catarina Martins deixou claro que o partido acredita "nesta ideia radical da igualdade entre homens e mulheres, entre todas as pessoas".
A professora catedrática do ISEG Sara Falcão Casaca foi uma das convidadas da audição parlamentar e na sua intervenção lembrou a dificuldade de arranjar um consenso sobre a melhor forma de medir a expressão da desigualdade salarial entre homens e mulheres.
Apesar do diferencial de 13% normalmente apontado entre os salários dos homens e mulheres, para Sara Falcão Casaca é "quase difícil" encontrar um método "tão imperfeito" como aquele que gerou esta estatística.
A investigadora apresentou o Diferencial Remuneratório entre Homens e Mulheres (DRHM) como o método mais fidedigno na avaliação das desigualdades salariais que "expurga efeitos de diferenças que homens e mulheres possam ter e que possam justificar o diferencial".
De acordo com este método, a diferença salarial real entre homens e mulheres é de cerca de 21% e só é possível justificar essas diferenças em 15% dos casos.