Após quase 20 anos, militares portugueses deixam o Afeganistão

Cerca de 4500 militares integraram os contingentes nacionais da missão Apoio Firme, da NATO. Missão teve duas baixas ao longo destes anos.
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É o fim de praticamente duas décadas de presença militar portuguesa no Afeganistão: 162 militares que estavam em missão em Cabul aterraram na manhã de hoje no aeroporto de Figo Maduro, no que o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, qualificou como um "momento histórico". Para trás ficaram ainda 15 militares, responsáveis pelo envio de equipamento para Portugal, que regressarão nos próximos dias.

"Este regresso marca também um momento histórico na medida em que se põe fim a quase 20 anos de envolvimento de Portugal no Afeganistão, quase 20 anos de contributo nacional para a estabilidade e segurança de um país que é remoto, mas que pertence ao mesmo planeta e cujas dinâmicas afetam as nossas dinâmicas na Europa", disse ontem João Gomes Cravinho na cerimónia de receção aos militares, citado pela Lusa. Este último grupo que ontem regressou tinha partido para o Afeganistão em janeiro, constituindo uma Força de Reação Rápida com a missão de vigilância e proteção ao aeroporto internacional Hamid Karzai, na capital do país, Cabul. O contingente integrou também elementos com responsabilidades em áreas como a engenharia militar ou o treino e aconselhamento das forças afegãs.

Desde 2002 estiveram no Afeganistão cerca de 4500 militares portugueses, numa missão classificada pela NATO com grau de ameaça "alto". Ao longo destes anos as forças portuguesas registaram duas baixas. Em 2005 o sargento dos Comandos João Paulo Roma Pereira, de 33 anos, morreu quando o blindado em que fazia uma patrulha foi atingido por uma explosão, um acidente em que ficaram feridos três outros militares portugueses. Dois anos depois, em 2007, o paraquedista Sérgio Pedrosa morreu vítima de um acidente com uma viatura blindada.
"Houve momentos difíceis, muito duros, momentos em que a qualidade dos nossos militares foi posta à prova", referiu ontem João Gomes Cravinho, sublinhando o "orgulho" nas missões portuguesas que estiveram no país asiático. O ministro destacou a importância da participação de Portugal nos esforços internacionais de segurança", lembrando que a intervenção no Afeganistão se seguiu ao atentado contra as Torres Gémeas, em Nova Iorque, em setembro de 2001. A missão da NATO chegou ao país no início de 2002.

"Ao fim de 20 anos, coletivamente, na NATO, chegámos ao momento de poder dizer que as forças [da aliança atlântica] devem agora sair do país, havendo condições para termos alguma segurança quanto ao Afeganistão nunca mais ser utilizado como uma base para o terrorismo internacional como aconteceu no final do século passado e início deste século", referiu o ministro. À semelhança dos portugueses, todas as forças da missão internacional Apoio Firme (Resolute Support) deixam o Afeganistão durante este mês, uma decisão anunciada em meados de abril, após uma reunião extraordinária dos ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros da aliança atlântica. Uma saída feita em articulação com a das tropas norte-americanas, que deverão deixar o país até setembro.

De acordo com o comunicado divulgado então, a saída das forças militares internacionais não é sinónimo de um ponto final no envolvimento da NATO no país. Cravinho confirmou que está a ser estudada a hipótese de uma nova missão no país, que ainda não está desenhada. "Será completamente diferente. Não será com este número de efetivos, nem com os objetivos da missão que agora se encerra. Nestas próximas semanas, meses será desenvolvido um novo conceito e Portugal estudará o interesse em participar nessa nova missão", referiu o ministro.

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