Acusam Moreira da Silva de "não ter aparelho", mas antigo líder da JSD "não é alien" no partido
Na segunda-feira, em Monsanto, Jorge Moreira da Silva diz ao que vai e o que tem a propor de diferente, em relação a Luís Montenegro, aos militantes do PSD tendo em vista a corrida à liderança que será decidida nas diretas de 28 de maio. Ao que o DN apurou, tem uma pequena equipa com ele, a que levou ao último congresso da JSD (estrutura que em tempos liderou), e não irá ostentar nomes de peso do partido. Prefere que passe a mensagem que vem para "renovar" o PSD e aceitará os apoios dos que entendem que é preciso um novo rumo para os sociais-democratas. Traz na bagagem a sua experiência internacional.
"Acusam-no de não ter aparelho a suportá-lo, mas isso revela alguma arrogância. Jorge Moreira da Silva não é um alien no PSD", afirma ao DN um dirigente social-democrata.
Recorda, aliás, que Moreira da Silva, além de ter liderado a JSD entre 1995/98, foi eurodeputado até 2003, altura em que o então primeiro-ministro Durão Barroso o levou para a secretaria de Estado da Ciência e Ensino Superior. "Depois cresceu com Pedro Passos Coelho", frisa a mesma fonte, e já após ter passado pelo Palácio de Belém como consultor de Cavaco Silva para as mesmas áreas que tinha tutelado no governo.
Pedro Passos Coelho, como presidente do PSD, escolheu-o para a sua direção (foi mesmo o seu primeiro vice-presidente) e mais tarde para ministro do Ambiente e coordenador autárquico. Sendo que é este último cargo que os apoiantes de Montenegro usam para desgastar já a sua imagem, ao recordarem que as autárquicas de 2013, as que coordenou, "foram um desastre".
Mas a sua experiência como ministro do Ambiente e depois coordenador autárquico, destaca outra fonte do PSD, "deu-lhe grande proximidade a muitos autarcas do PSD". E enquanto líder da JSD "apanhou toda uma geração que está agora ativa no partido", reforça.
Em comunicado, Jorge Moreira da Silva anunciou ontem a sua demissão das funções de Diretor da Cooperação para o Desenvolvimento, na OCDE, cargo que ocupava desde 2016, em Paris, e cujo exercício seria incompatível com a sua candidatura.
"Candidato-me à liderança do PSD por sentido de responsabilidade - atendendo às circunstâncias difíceis que tanto Portugal como o PSD enfrentam - e animado pela firme convicção de que sou portador de um projeto capaz de renovar o PSD, libertar o potencial de crescimento sustentável em Portugal e assegurar que os portugueses reconquistam o seu pleno direito ao futuro", referiu.
Embora as estruturas do PSD, nomeadamente as distritais, se mostrem nesta fase ainda mais reservadas - por comparação com o apoio à candidatura de Paulo Rangel nas últimas diretas contra Rio -, o líder de uma das maiores, a de Braga, assume que é apoiante convicto de Luís Montenegro (como foi há dois anos quando avançou com Rui Rio), mas admite que "é importante existir mais do que um candidato na corrida à liderança e ainda mais importante ser Jorge Moreira da Silva". Paulo Cunha explica porquê: "É um quadro prestigiado e tem uma folha curricular digna que trará ao PSD debate e discurso elevado, valores e ideias". O que, reforça, é algo que "o PSD precisa para que saia de 28 de maio fortalecido".
Paulo Cunha entende, no entanto, que "o melhor colocado" para suceder a Rio é Montenegro porque "tem as qualidades humanas, técnicas e políticas" para desempenhar o cargo.
"É uma pessoa madura, que conhece muito bem o partido e os militantes, tem ideias claras sobre o posicionamento do PSD na social-democracia e tem mostrado capacidade como poucos para fazer pontes", diz o dirigente da distrital.
"São dois bons candidatos", assume em off outro dirigente social-democrata, embora também reconheça a Montenegro" um espírito mais combativo e mais político" do que a Jorge Moreira da Silva, de quem destaca o seu património "técnico e de grandes contactos internacionais". Este dirigente insiste na ideia de que, apesar do antigo líder parlamentar do PSD estar melhor colocado para ganhar as diretas de maio, "não se deve subestimar a candidatura de Moreira da Silva". Relembra que uma figura política como Montenegro, que até teve um embate forte com Rio, e que está na política ativa há tanto tempo, "cria sempre anticorpos". A começar por alguns apoiantes de Rui Rio. Sublinha ainda que "se a nomenclatura de um concelho ou de um distrito estiver com Montenegro, há sempre segundas e terceiras linhas que apostam na alternativa".
Um ou outro, os militantes do PSD terão a possibilidade de escolher, entre duas personalidades tão distintas, no dia 28 de maio quem querem ver a conduzir o partido neste ciclo de maioria absoluta socialista.
paulasa@dn.pt