Mayan critica "presidente de um governo"; Marcelo ataca "utopia" liberal
O segundo debate televisivo para as presidenciais, na RTP1, entre Marcelo Rebelo de Sousa e Tiago Mayan Gonçalves, o candidato apoiado pelo Iniciativa Liberal atacou o opositor acusando-o de ter "falhado" o seu mandato de Presidente da República. Marcelo ripostou desfazendo na "utopia" do Estado liberal.
O segundo debate televisivo para as presidenciais, na RTP, entre Marcelo Rebelo de Sousa e Tiago Mayan Gonçalves foi mais tenso e mais ideológico do que o anterior com Marisa Matias. O candidato do Iniciativa Liberal transportou para o frente-a-frente as criticas que já tinha feito a Marcelo: "Foi um presidente de governo!" Marcelo defendeu-se várias vezes e ripostou desvalorizando as ideias liberais do opositor. Esgrimiu em particular o facto do IL ter sempre rejeitado o estado de emergência quando se mostrava tão preocupado com os mortos por covid-19.
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Tiago Mayan Gonçalves disparou logo no início do debate, procurando manter Marcelo à defesa, o que conseguiu várias vezes até o recandidato a Belém ter virado o jogo. "O que move o senhor Presidente é a sua popularidade. É isso que o põe sempre ao lado do Governo exceto quando sente a sua popularidade ameaçada." O candidato acusou ainda Marcelo Presidente de se comportar como um mero "espetador" em casos como o do currículo do procurador europeu e o da morte do cidadão ucraniano pelos agentes do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. "Marcelo foi o Presidente de um governo", assegurou.
"O que move o senhor Presidente é a sua popularidade. É isso que o põe sempre ao lado do Governo exceto quando sente a sua popularidade ameaçada"
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Nesta altura Marcelo ainda se limitou a responder às acusações, rejeitando a ideia de que se move pela popularidade. "Se há coisa é que é muito evidente para mim é que me é indiferente a popularidade: totalmente indiferente". Deu o exemplo do veto à lei de financiamento dos partidos contra todo o Parlamento e o facto do maior número de vetos ter sido em 2019.
Sobre os casos levantados pelo adversário, Marcelo lembrou que falou do caso do SEF em abril e reiterou que não falou com a viúva de Ihor Homeniuk, o que voltaria a repetir se fossem hoje os acontecimentos, porque "estando a decorrer um processo criminal, eu não iria antecipar um juízo do Estado português falando com a viúva".
"Se há coisa é que é muito evidente para mim é que me é indiferente a popularidade: totalmente indiferente"
O recandidato a Belém, que começou a entrevista também com um tom elogioso para Tiago Mayan Gonçalvez, adotou uma postura mais agressiva no final do debate. Desafiou-o a escolher a lei que teria vetado em seu lugar se fosse Presidente. E o candidato do IL brande a lei que enquadrou as eleições para as Comissões de Coordenação Regional (CCDR,) que classifica de "simulacro de democracia". E dispara para Marcelo: "O senhor (a quem sempre tratou por Presidente) é o candidato dos Donos Disto Tudo".
O liberalismo e a pandemia
A pandemia e a resposta do Serviço Nacional de Saúde serviram para um confronto ideológico entre os dois candidatos a Belém, com Marcelo a explorar a ideia que o liberalismo não tem resposta adequada para uma crise em que é preciso forte investimento do Estado, nomeadamente no financiamento dos lares.
Tiago Mayan defendeu-se: "O que um liberal defende é um acesso efetivo e universal aos cuidados de saúde". Afirmou que o Estado deveria ter usado todo o sistema de saúde instalado e que "por preconceito ideológico" não mobilizou os privados.
Marcelo questionou uma vez mais diretamente Tiago Mayan Gonçalves sobre em que é que as políticas liberais ajudariam um estado num contexto de pandemia. "Os países mais liberais quando chegou a pandemia, o que é que fizeram? Injetaram dinheiro na economia, nas políticas sociais. Como é que se resolve a pobreza e a crise sem políticas sociais? Acha que a mera liberdade económica resolve a pobreza?". E insistiu: "Já viu como é tão vago quando se trata das suas ideias".
Voltou a questioná-lo sobre ""descentralização, sim ou não?". Tiago lembra que é autarca e sabe do que fala, mas Marcelo tem créditos nesta matéria também: "É? Eu fui autarca 20 anos. Estive no terreno de uma das autarquias mais pobres do país, não é Lisboa nem Porto, é Celorico de Basto".
"Este Estado de Emergência do senhor Presidente é do país que está a enfrentar a enfrentar a destruição social"
Já na reta final do confronto, os sucessivos estados de emergência vieram à baila e Mayan deu nota do se partido ser contra este estado, tanto mais que sempre o rejeitou no Parlamento. "Este Estado de Emergência do senhor Presidente é do país que está a enfrentar a enfrentar a destruição social." Marcelo voltou a estar ao ataque e respondeu: "A Iniciativa Liberal votou quase sempre contra a declaração do estado de emergência, e eu pergunto: o que seria o saldo em termos de mortes não havendo estado de emergência e a mobilização de meios que isso permitiu, e a prevenção dos portugueses?".
"A Iniciativa Liberal votou quase sempre contra a declaração do estado de emergência, e eu pergunto: o que seria o saldo em termos de mortes não havendo estado de emergência e a mobilização de meios que isso permitiu, e a prevenção dos portugueses?"
O que lhe deu mote para atacar "o sonho e a utopia do Estado liberal". Os países que eram contra o estado de emergência acabaram todos a adotá-lo. frisou. Marcelo Rebelo de Sousa terminou a manifestar-se "preocupado" com a situação "galopante" no Reino Unido da pandemia e por causa da nova estirpe que já está em Portugal. "Há uma pressão outra vez sobre os internamentos e os cuidados intensivos que é preocupante, que justifica a preocupação de renovar o estado de emergência por 8 dias, para depois haver uma análise dos números em relação ao Natal e Ano Novo, porque eu acho que houve algum laxismo nesse período, e depois então votar uma nova renovação do estado de emergência".
Os debates que se seguem
Inicialmente, RTP, SIC e TVI apenas tinham previstos debates entre seis candidatos - Marcelo Rebelo de Sousa, Ana Gomes, Marisa Matias, João Ferreira, André Ventura e Tiago Mayan -, mas a aceitação da candidatura de Vitorino Silva pelo Tribunal Constitucional levou a televisão pública e o Porto Canal a proporem novos frente a frente para incluírem o antigo autarca do PS e fundador do partido RIR.
Depois do primeiro debate na RTP1, entre Marcelo Rebelo de Sousa, atual Presidente da República, e Marisa Matias, candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda (BE), e do 'duelo' entre o candidato apoiado pelo PCP, João Ferreira, e André Ventura, do Chega, na TVI24. E deste entre Marcelo e Tiago Mayan, o candidato apoiado pelo Iniciativa Liberal, na RTP, seguem-se os seguintes frente-a-frente.
Para segunda-feira, estão previstos três debates, média que se manterá até dia 09: Marcelo Rebelo de Sousa - João Ferreira na TVI (21:00), Marisa Matias e a socialista apoiada pelo PAN e Livre Ana Gomes (22:00, SIC Notícias), e ainda o frente a frente Vitorino Silva - André Ventura (22:45, RTP3).
Na terça-feira, 05 de janeiro, a RTP1 conta com o debate entre João Ferreira e Ana Gomes (21:00), enquanto a SIC Notícias transmite o debate André Ventura - Tiago Mayan, seguindo-se na RTP3, às 22:45, o confronto entre Vitorino Silva e Marisa Matias.
Já no dia de Reis, 6 de janeiro, decorrerão os debates Marcelo Rebelo de Sousa - André Ventura (21:00, SIC), João Ferreira - Tiago Mayan (TVI24, 22:00) e Vitorino Silva - Ana Gomes (22:45, RTP3).
No da 7 de janeiro, a SIC transmite o frente a frente de Marisa Matias - André Ventura, e na TVI24, uma hora mais tarde, decorre o debate Ana Gomes - Tiago Mayan. Na RTP3, às 22:45, será a vez de Vitorino Silva debater com Marcelo Rebelo de Sousa.
A 8 de janeiro, o debate Ana Gomes - André Ventura decorre pelas 21:00, na TVI, enquanto o frente a frente Marisa Matias - João Ferreira é emitido a partir das 21:30 na RTP. No mesmo dia, pelas 22:45, será o debate entre Vitorino Silva e Tiago Mayan, na RTP3.
A 9 de janeiro, Marcelo Rebelo de Sousa defronta Ana Gomes na RTP1 (21:00) e Marisa Matias debaterá com Tiago Mayan, na SIC Notícias (22:00), com este primeiro ciclo a encerrar com o frente-a-frente entre Vitorino Silva e João Ferreira, às 22:45, na RTP3.
No dia 12 de janeiro, a RTP transmite um debate com todos os candidatos, às 22:00.
O Porto Canal anunciou, entretanto, já ter agendado mais cinco debates: Vitorino Silva - Marisa Matias (17 de janeiro); Vitorino Silva - André Ventura (dia 18); Vitorino Silva - Marcelo Rebelo Sousa (20 de janeiro); Vitorino Silva - Ana Gomes (dia 21) e Vitorino Silva - Tiago Mayan (22 de janeiro).
A confirmar-se, subirá para 26 o total de frente a frente televisivos, para além do debate com os sete candidatos a Presidente da República.