José Manuel Pureza, tal como o DN antecipara na última semana, é o nome escolhido pela Moção A do Bloco de Esquerda para coordenador do partido. A lista que reúne a maioria da Mesa Nacional encontrou-se em plenário no domingo e a Moção encaminha Pureza como sucessor de Mariana Mortágua. Em novembro, irão a votos para a Mesa Nacional cinco moções e o DN ouviu as quatro opositoras à que tem as principais figuras do partido. O “problema”, todos o dizem, não era Mariana Mortágua, mas sim a centralidade da figura de liderança. Se nesse capítulo estão de acordo, no nome escolhido há divisão. “É verdade que não faz parte da Comissão Política, mas não precisa de estar nesse órgão para mandar. Pureza não é um corte com a Direção anterior. É uma tentativa de criar um coordenador mais agradável para a atual conjuntura, é mais moderado, centrista. Escolher um homem de meia-idade, católico, é corresponder ao país mais recuado, que está a abdicar de certos valores que dávamos como conquistados. Não é um nome que nos dá descanso”, considera Ana Sofia Ligeiro, da Moção B, que vê “menos bandeiras” no antigo deputado e rejeita a ideia de que vá “ser mais dialogante”, referindo que Mariana Mortágua e o Bloco “não estiveram pouco comunicativos com outros partidos”, dando o exemplo das coligações autárquicas. A Moção B critica a forma como foram avançados os nomes para a Mesa Nacional e como é encaminhado um nome para coordenador sem discussão plena. A Moção S corrobora e, ao DN, Nuno Pinheiro, vê um novo perfil, escolhido estrategicamente: “Pureza tem trajeto dentro e fora do partido, mas, infelizmente, não o estão a nomear pelas qualidades, mas por ser o anti-Mariana, que era uma mulher, mais jovem, com imagem mais agressiva. Pureza é mais moderado, homem e católico progressista. Não vejo problema no nome, mas todo o processo é confuso. Dá-me pena ser escolhido nestas condições.”Todas as moções destacam a importância do “diálogo” e José Carita, da C, lembra os tempos de vice-presidente da Assembleia da República para dizer que Pureza “garante todas as condições” e que “não há qualquer prurido”, embora realce que também “não existia qualquer prurido com a liderança de Mariana Mortágua”, condicionada por uma “campanha antifeminista.” O militante vinca que o nome será da “exclusiva responsabilidade da Moção A”, pedindo que se avance com discussão interna porque “cinco ou seis cabeças não podem pensar por um partido inteiro.”A Moção H, por via de Carlos Carujo, rejeita discutir o “nome ou o perfil”, nem sequer “como é visto pela sociedade ou que estilo de liderança ou comunicação aplica.” O que preocupa a Moção H é “a Moção A não fazer um balanço autocrítico profundo”, preferindo “culpar a comunicação e desculpabilizar a linha política.”Rotatividade no deputado satisfaz as duas alasFoi apresentada a possibilidade de Fabian Figueiredo e Andreia Galvão, números 2 e 3 por Lisboa, revezarem-se como parlamentares. “É secundário quanto a outros problemas, mas o Bloco já desenvolveu essa prática e o lugar deve ser tido como coletivo, portanto não vemos com maus olhos”, declara Carujo, da Moção H. “Fabian está a ajudar na campanha de Catarina Martins. Pode não ter disponibilidade total. Mas é uma forma de alimentar duas pessoas, acaba por ser confuso e podemos ser atacados por isso”, afirma José Carita, da Moção C. As moções B e S veem as alas Esquerda Alternativa (Fabian Figueiredo) e Anticapitalista (Andreia Galvão) representadas. “É uma lógica aritmética nas tendências: um homem e uma mulher. Mas vemos com agrado a rotatividade e menor centralidade”, diz Ana Sofia Ligeiro. “É uma solução de equilíbrio entre duas fações. É difícil pôr em prática. A lei passou a dificultar as substituições parlamentares”, alerta Nuno Pinheiro, tendo em conta que possíveis necessidades de suspender de mandato teriam de ser aceites pela Assembleia. .“Não interessam nome ou perfil, o que preocupa é a Moção A não fazer um balanço autocrítico profundo.”Carlos Carujo, moção H do BE.“Pureza garante todas as condições, não há qualquer prurido, mas não havia com Mariana também.”José Carita, moção C do BE.“Pureza tem trajeto, mas não é nomeado pelas qualidades, antes, sim, por ser a imagem oposta à Mariana.”Nuno Pinheiro, moção S do BE.“Escolher um homem de meia-idade, católico, é corresponder ao país mais recuado, que está a abdicar de certos valores.”Ana Sofia Ligeiro, moção B do BE.Bloco de Esquerda: capacidade para fazer pontes dá impulso a José Manuel Pureza no partido.José Manuel Pureza confirmado como candidato à liderança do Bloco de Esquerda