Cristas marca diferença nos impostos, Rio abre porta à regionalização

Os líderes do PSD e do CDS tiveram um confronto morno no primeiro debate para as legislativas. Rio nem contrariou Assunção Cristas quando disse que o CDS quer baixar mais os impostos. Só na regionalização divergiram, apesar de assumirem que, se o vento lhes for a favor nas eleições de 6 de outubro, poderão ir de braço dado governar, tal como em 2011.
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Rui Rio e Assunção Cristas trataram-se como antigos parceiros de governo, sem grandes afrontas, embora com a líder centrista a tentar marcar sempre terreno. A jornalista Clara de Sousa, que moderou o frente-a-frente entre os dois, na SIC, esta noite de quinta-feira, tentou explorar algumas divergências, mas sem grande sucesso. Só quando colocou a questão da regionalização é que pôs o presidente social-democrata admitir que poderá votar um projeto se baixar a despesa pública e a líder centristas a dizer com todas as letras "não" a essa reforma do Estado.

Sobre a regionalização, que foi aconselhada pela comissão constituída no Parlamento para estudar a descentralização, Rio admitiu que em 1998 votou contra. "Hoje não voto contra qualquer coisa. Gostava de um projeto que me permitisse votar a favor. Se o Parlamento aprovar uma lei e se essa lei for referendada, se no quadro dessa lei as competências estiverem devidamente atribuídas e a despesa pública baixar, sou a favor".

Assunção marcou logo uma linha vermelha, mesmo que a 6 de outubro o centro-direita, onde colocou o seu partido, e ao lado do PSD, tenha votos suficientes para formar governo. "A regionalização para o CDS é mais despesa do Estado, mais burocracia e mais cargos políticos. Isso não ajuda o país".

Aliás, coube sempre à líder centrista marcar a diferença em relação ao PSD de Rio. Foi ela que manifestou o "orgulho" de ter participado num governo de Passos Coelho e de Paulo Portas que tirou o país da bancarrota. De o CDS ter sido a oposição ao governo e ser "muito claro" a rejeitar qualquer acordo com o PS ou António Costa.

O presidente do PSD acabou a justificar porque deu a mão a Costa em dois acordos - descentralização e fundos comunitários - reafirmando que os portugueses gostam que os políticos se entendam a bem do país. "O CDS optou por fazer a oposição como fez e eu fiz oposição em 2018 diferente do fiz 2019. Em 2019 temos três eleições, temos de mostrar as diferenças".

E se PSD e CDS apostam muitas fichas do seus programas eleitorais na descida de impostos, e ambos com a ideia de que neste momento o país "vive a maior carga fiscal de sempre", Cristas voltou a tentar sobrepor-se, garantindo que a proposta do seu partido para usar 60% do excedente orçamental na redução da carga fiscal, é "mais ambiciosa" do que a do PSD, que dedica 25% a esse fim. Rio nem a contrariou.

Neste deve e haver, as críticas mais contundentes ao governo ficaram para o mastigar da crise dos professores, em que PSD e CDS foram penalizados por parecer que tinham recuado no apoio à devolução do tempo integral das carreiras congeladas dos professores. Rio recusou-se a admitir que errou e acusou o governo de "encenação" e "teatralidade" a gerir este caso, tal como a greve dos motoristas de matérias perigosas. Assunção fez as mesmas críticas, mas assumiu um mea culpa por não ter conseguido fazer passar a mensagem do CDS.

Rio beliscou ainda o governo socialista por não ter tido um modelo de crescimento económico capaz de oferecer melhores empregos e melhores salários aos portugueses. "É preciso apostar no investimento e nas exportações".

Os dois líderes tiveram também que justificar o motivo pelo qual nos respetivos programas eleitorais não se batem pelo retorno as 40 horas semanais de trabalho na função pública, depois de terem criticado a opção do governo pelas 35 horas. "Governo fez mal ter passado das 40 para as 35 horas e degradou os serviços públicos. Mas não podemos andar a reverter tudo", afirmou Rui Rio. Já Assunção considerou: "Estes dois modelos de 35 horas para o público e de 40 horas para os privados não é de uma sociedade coesa e equilibrada. Mas prioridade do CDS é baixar impostos e não reverter as 35 para as 40 horas".

Coligação PSD/CDS

Assunção Cristas

"O CDS tem feito, e fez, durante quatro anos o seu melhor para ser posição às esquerdas, que fizeram mal ao país, Temos a maior carga fiscal de sempre!"

"Depois de 2015 mudamos o nosso sistema político e passamos a ter necessidade de constituir uma maioria, 115 mais 1, o CDS quer contribuir para construir essa maioria"

Rui Rio

"Não vejo o que possa prejudicar a alternativa ao PS [CDS e PSD irem separados]

"O CDS optou por fazer a oposição como fez e eu fiz oposição em 2018 do que fiz 2019. Em 2019 temos três eleições, temos de mostrar as diferenças. Os portugueses valorizam quando queremos trabalhar para o país e as diferenças quando há eleições"

Assunção Cristas

"Orgulho-me de ter participado num governo de Passos Coelho e Paulo Portas que tirou o partido da bancarrota. Em 2015 o país mudou. O CDS está no espaço político centro direita em Portugal. Estamos à direita do PS e somos oposição às esquerdas. Votar no CDS é dar força a este projeto alternativo"

"O CDS é muito claro, não fará nenhum acordo estável com o PS nem fará acordo com António Costa".

Rui Rio

"O normal é os partidos irem a eleições separados. Ganharíamos um ou dois deputados por método de Hondt se fossemos coligados. Se tivermos a maioria pós eleições faremos a solução que sempre fizemos ao longo da história".

Redução de impostos

Assunção Cristas

"O calendário do anterior governo previa que seria acelerado com a melhoria da situação económica. Poderia ter-se baixado impostos. Temos condições para utilizar 60% do excedente orçamental para baixar 15% o IRS e também o IRC para as empresas".

Rui Rio

"O que queremos, que os portugueses tenham melhores empregos e melhores salários, por isso a estratégia de crescimento económico não é esta. Temos de apostar nas exportações e no investimento. Com este governo temos a maior carga fiscal de sempre"

Assunção Cristas

"Com abrandamento económica a proposta de baixar impostos não é irrealista. "Se agora há superavit não é o momento de baixar impostos, quando é?" É sempre ajustável a redução de impostos para todas as pessoas"

"Agora para justificar que não se baixem impostos levanta-se o papão da crise"

Rui Rio

"O crescimento económico traz uma folga, 15 mil milhões de euros. 25% para baixar impostos". O nosso quadro macroeconómico é prudência com ambição"

Assunção Cristas

" O CDS é mais ambicioso 60% para baixar impostos e 40% para baixar a dívida. A prioridade número um para nós é baixar os impostos e a nossa proposta é mais ambiciosa"

35 versus 40 horas semanais de trabalho

Rui Rio

"Governo fez mal ter passado das 40 para as 35 horas e degradou os serviços públicos. Mas não podemos andar a reverter tudo"

Assunção Cristas

"Estes dois modelos de 35 horas para o público e de 40 horas para os privados não é uma sociedade coesa e equilibrada. A prioridade do CDS é baixar impostos a reverter as 35 para as 40 horas".

Regionalização

Rui Rio

"Em 1998 votei contra, eu hoje não voto contra qualquer coisa. Gostava de um projeto que me permitisse votar a favor. Se o Parlamento aprovar uma lei e se essa lei for referendada, se no quadro dessa lei as competências tiverem devidamente atribuídas e a despesa pública baixa sou a favor"

Assunção Cristas

A regionalização para o CDS é mais despesa do Estado, mais burocracia e mais cargos políticos. Isso não ajuda o país"

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