Costa: "O Brasil precisa de solidariedade e não de sanções"
"A Amazónia é um dos maiores pulmões do mundo e o que lá acontece é um problema global", afirmou o primeiro-ministro António Costa.
O primeiro-ministro, António Costa, manifestou esta sexta-feira "a total solidariedade" de Portugal "para com o povo brasileiro, com o Brasil, pela situação dramática que se está a viver" na maior floresta tropical do Mundo. "A Amazónia é um dos maiores pulmões do mundo e o que lá acontece é um problema global", justificou o chefe do governo aos jornalistas durante uma visita à Fatacil, na Lagoa.
Perante a ameaça do presidente francês, Emmanuel Macron, em opor-se ao tratado comercial entre a União Europeia e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) por causa do aumento do número de incêndios na Amazónia, o primeiro-ministro português manifestou-se contra.
"O Brasil precisa de solidariedade e não de sanções. O que nós precisamos é que haja intervenção para ajudar a salvar a amazónia, não é aumentar o número de problemas que existem nestas relações entre a Europa e o Brasil", disse António Costa. Considerou que não se deve confundir o "drama que está a ser vivido na Amazónia" com o acordo entre a União Europeia e a Mercosul.
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Trata-se, no entanto, de "um acordo comercial muito importante para a economia portuguesa", salientou. Mas a tragédia que está a atingir a floresta amazónica não deve ser utilizada pelos "países que sempre se opuseram" ao acordo comercial entre a União Europeia e a Mercosul, afirmou Costa.
Macron acusa Bolsonaro de mentir
O presidente francês considera opor-se às novas condições do tratado comercial entre a União Europeia e o Mercosul porque o presidente do Brasil estava a mentir quando desvalorizou as alterações climáticas na cimeira do G20 no Japão, em junho, disse fonte do gabinete de Macron, citada pela Reuters.
"Tendo em conta a atitude do Brasil nas últimas semanas, o Presidente da República não pode se não constatar que o Presidente Bolsonaro lhe mentiu na Cimeira de Osaka", afirmou a presidência francesa, referindo-se à Cimeira do G20 que se realizou no final de junho.
"O Presidente Bolsonaro decidiu não respeitar os compromissos ambientais e não se empenhar em matéria de biodiversidade. Nestas condições, França opõe-se ao acordo com o Mercosul tal como está", acrescentou.
A Finlândia, que detém a presidência rotativa da União Europeia, pediu esta sexta-feira à UE que considere a possibilidade de proibir a carne bovina brasileira no seus mercados devido à devastação causada pelos incêndios na floresta amazónica.
"A ministra das Finanças, Mika Lintila, condena a destruição das florestas tropicais da Amazónia e sugere que a UE e a Finlândia deveriam rever com urgência a possibilidade de banir as importações brasileiras de carne bovina", disse o Ministério das Finanças da Finlândia em comunicado.
Presidente francês quer que os incêndios sejam discutidos no G7
Emmanuel Macron defendeu que os incêndios na Amazónia deviam ser discutidos na cimeira do G7, que decorre entre sábado e segunda-feira em Biarritz, no sudoeste de França.
A posição do presidente francês não foi bem recebida pelo seu homólogo brasileiro. Jair Bolsonaro acusou Macron de "mentalidade colonialista" e de querer usar os incêndios para proveito político próprio.
"A nossa casa está a arder. Literalmente. A floresta da Amazónia - o pulmão que produz 20% do oxigénio do planeta - está a arder. É uma crise internacional. Membros do G7 vamos discutir esta emergência dentro de dois dias", escreveu Macron na quinta-feira na rede social Twitter.
Três horas depois, Jair Bolsonaro escreveu, também no Twitter, que Macron está a "instrumentalizar uma questão interna do Brasil e de outros países amazónicos" para proveito próprio. E, num segundo tweet, acrescenta que a "sugestão do presidente francês, de que assuntos amazónicos sejam discutidos no G7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século XXI". O G7, que junta os países mais industrializados do mundo, conta com a participação dos líderes da Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.