Philip Morris: "O nosso objetivo é tornar os cigarros obsoletos"
Lidera a área da sustentabilidade na Philip Morris International (PMI). Qual é a diferença entre uma empresa de tabaco e outras nesta área? A que prioridades estão mais atentos?
O que diferencia uma empresa de tabaco são os efeitos dos seus produtos na saúde dos consumidores. A meu ver uma empresa de tabaco não pode falar seriamente sobre sustentabilidade se não tiver no cerne da sua estratégia de sustentabilidade e de negócios a questão dos efeitos dos seus produtos na saúde. É isso que a PMI, e a Tabaqueira como sua subsidiária, está a fazer, com a empresa plenamente dedicada a substituir os cigarros por alternativas melhores, sem fumo.
Que tipo de iniciativas liderou ou incorporou, que realmente fazem a diferença na sustentabilidade das políticas da PMI?
Para alcançar o seu objetivo de um futuro livre de fumo, a PMI está a levar acabo uma profunda transformação das suas atividades, e essa transformação afeta todos os níveis da nossa cadeia de valor, desde a Investigação & Desenvolvimento e o cultivo de tabaco aos resíduos pós-consumo.
Antes de empreender esta grande transformação, a PMI já estava a executar programas de sustentabilidade de nível mundial, por exemplo, em termos de práticas laborais na área agrícola, com o objetivo de eliminar o trabalho infantil e garantir condições de trabalho humanas e justas para os produtores de tabaco, para além de várias iniciativas de redução da pegada de carbono. No entanto, não estávamos ativamente a falar sobre os nossos esforços de sustentabilidade, enquanto não estivéssemos a abordar o elefante na sala - os efeitos do consumo de tabaco na saúde, o impacto número um de sustentabilidade de uma empresa de tabaco.
A campanha de um mundo livre de fumo que a PMI está a liderar trouxe mudanças massivas ao seu trabalho e objetivos?
Para a PMI, a visão de um mundo livre de fumo não é uma campanha, é um objetivo de negócio. Como disse, trouxe grandes mudanças na forma de operarmos a todos os níveis da nossa cadeia de valor. O nosso empenho para com o nosso futuro livre de fumo não é apenas uma declaração, é um progresso medido através um conjunto de métricas do negócio – a que chamamos de métricas-chave de transformação do negócio - que permitem que todas as partes interessadas percebam a seriedade da nossa transformação e os progressos que estamos a fazer.
O nosso objetivo é que todos os fumadores que, de outra forma, continuariam a usar cigarros mudem para produtos sem fumo, e continuamos a alocar os recursos da empresa no sentido de alcançar essa ambição. No ano passado, os produtos sem fumo representaram cerca de 5% do seu volume de vendas, mas geraram quase 14% da nossa receita líquida excluindo impostos. Além disso, 60% de nossas despesas comerciais globais e 92% dos nossos investimentos globais em Investigação & Desenvolvimento foram alocados a produtos sem fumo.
Como e quando será que estes produtos sem fumo para os quais a PMI está tão empenhada em caminhar terão realmente um impacto nos países menos desenvolvidos?
O nosso objetivo é tornar os cigarros obsoletos em todo o lado - inclusive nos países de mais baixo rendimento e também nas populações de mais baixo rendimento em países com rendimentos mais elevados. Estamos a trabalhar nisto e a acelerar o ritmo de nosso progresso e o iQOS (sistema de aquecimento de tabaco) já é vendido com sucesso em vários países de rendimento médio. Desde o lançamento do nosso principal produto sem fumo, o iQOS, em 2014, cerca de 8,8 milhões de fumadores adultos em todo o mundo deixaram de fumar e mudaram para os produtos de tabaco aquecido da PMI. A nossa ambição é que, até 2025, pelo menos 40 milhões de fumadores consumidores da PMI tenham mudado para produtos sem fumo. Conseguir isto aceleraria o declínio do consumo de cigarros entre os nossos consumidores mais rapidamente, em mais de três vezes, por comparação com as metas estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde.
Portugal aprovou recentemente um projeto de lei sobre pontas de cigarro - quem atirar para o chão será objeto de uma coima. A ideia é resolver um problema de poluição. Acha que a PMI deveria fazer algo a este respeito, tornando os cigarros menos prejudiciais ao ambiente?
A melhor forma de tornar as pontas de cigarro menos prejudiciais para o ambiente é não as atirar para o chão. Na PMI estamos a adotar uma abordagem sistemática para a questão do lixo das pontas de cigarro, que envolve uma análise e uma tomada de ação relativamente às suas causas, aos fatores determinantes da mudança de comportamento, ao equipamento para um descarte adequado, e a uma sensibilização. Estamos em parceria com outras entidades a desenvolver e a partilhar abordagens inovadoras para reduzir de forma tangível o lixo das pontas de cigarro. As coimas podem desempenhar um papel dissuasivo eficaz na redução do lixo ao estimular a mudança de comportamento desejada.
A fábrica portuguesa da PMI foi a primeira a ganhar um certificado da Alliance for Water Stewardship pelo seu uso sustentável da água. É um exemplo a seguir por outras subsidiárias?
Temos muito orgulho na certificação Alliance for Water Stewardship da fábrica da Tabaqueira, uma subsidiária da PMI, e de ter sido a primeira empresa em Portugal a passar por este processo. Mais recentemente, a APEE - Associação Portuguesa de Ética Empresarial reconheceu também os padrões sustentáveis de produção e consumo da Tabaqueira. Temos um compromisso para com uma gestão eficiente dos recursos hídricos em todas as nossas instalações - é por isso que aderimos à Alliance for Water Stewardship em 2017. Já temos seis fábricas certificadas em todo o mundo neste ano e planeamos ter todas as nossas fábricas certificadas até 2025.
No que diz respeito à sustentabilidade, quais são as temáticas mais urgentes em que a PMI precisa de agir?
A nossa principal prioridade é continuar a avançar na nossa trajetória de “desfumar” o mundo, substituindo os cigarros por melhores alternativas, abordando os desafios da sustentabilidade em toda a nossa cadeia de valor e aproveitando as oportunidades para agregar valor à sociedade. Isso inclui abordar questões prementes tais como mitigar as alterações climáticas e eliminar o trabalho infantil. Mas é importante lembrar que a capacidade de todas as partes relevantes participarem num diálogo colaborativo e conjunto será essencial para fazer progressos significativos no sentido da Agenda 2030 e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – o que também é verdade no que se refere ao ritmo da progressão da nossa transformação no sentido de se “desfumar” o mundo.