As “dificuldades” não foram escondidas e atravessaram muitos dos discursos, no segundo dia de Congresso do PCP, em linha com as confissões, de sexta-feira, de Paulo Raimundo de que o partido vive um “quadro de acrescida exigência com uma correlação de forças mais desfavorável”, que são “tempos de resistência” que exigem, dada “a gravidade as situação”, uma “afirmação clara” do partido e “do seu papel” e ”não a sua diluição em falsas saídas e soluções inconsequentes”..Jerónimo de Sousa, anterior secretário-geral, admitiu que os comunistas vivem “um tempo exigente, de resistência, de acumulação de forças ” e pediu, por ser “preciso”, “um PCP mais forte para intervir, tomar iniciativa, combatendo injustiças e desigualdades”..Aludindo ao “segredo da longevidade” do partido - “confiança no seu coletivo militante, nas suas próprias forças, confiança na capacidade de ação e de intervenção” - Jerónimo de Sousa, após a constatação, exortou os delegados comunistas a continuarem “de pé, para lutar de pé” e a enfrentarem a “ofensiva contra Abril com força e confiança”. E acrescentou :”A esperança, seguir em frente e transformar o sonho em vida.”.Uma ideia que João Oliveira, eurodeputado, traduziu numa frase que levantou o congresso: “Mesmo quando formos um entre muitos não nos faltará confiança para erguer a voz.” Isto depois de reconhecer que o tempo, desde ao último congresso do partido, em 2020, “foi difícil e exigente”..E tal como na sexta-feira, também ontem a “convergência”, sublinhada por Paulo Raimundo no discurso de abertura, percorreu os discursos. .João Ferreira, vereador na Câmara de Lisboa, foi mais longe que todos ao defender que para concretizar a política alternativa que o partido defende, é essencial “alterar a correlação de forças”, atraindo tradicionais eleitores do PS e [esteve aqui a surpresa] atrair quem está a votar em “projetos reacionários” - expressão usada para classificar Chega, IL, CDS e PSD. .E como ? “Deslocando para a esquerda amplos setores da sociedade, seja na base social e eleitoral de outros partidos, como o PS, com gente que esteja disposta a trocar a alternância pela alternativa, seja captando o descontentamento e a revolta que os projetos reacionários procuram instrumentalizar a seu favor”, argumentou. .“Num tempo de soluções fáceis, prontas a servir ao virar da esquina, não nos podemos iludir: esta política que transformará profundamente a situação económica e social, pressupõe ela própria, para se realizar, uma alteração substancial da atual situação política”, avisou..Margarida Botelho, que pertence ao restrito grupo do secretariado de Paulo Raimundo, nesse alargar de convergências afirmou que “não são só os comunistas que sentem e vivem os problemas que identificamos com precisão nas Teses. A situação não prejudica apenas a classe operária e os trabalhadores”. E depois abriu o leque de possibilidades: Os problemas atingem “todas as classes, camadas e sectores antimonopolistas, incluindo sectores da pequena e média burguesia”..E deixou também um alerta: “Os comunistas têm a enorme vantagem da discussão coletiva, da organização, da independência de classe do nosso Partido, na análise, na ação, na intervenção e nos meios. Mas não sabemos tudo, nem mudaremos o mundo sozinhos.”.Rui Braga, também do secretariado comunista, questionou a gestão interna do partido ao dizer que “por vezes a avaliação dos quadros é feita com superficialidade, de modo unilateral, com falta de espírito crítico e autocrítico”..Pedindo “uma preparação cada vez mais elevada, diversificada, capaz de responder no plano político e ideológico”, Rui Braga deixou ainda o reparo de que “apesar dos passos positivos que se têm dado neste domínio, continuam a verificar-se deficiências e atrasos no melhor conhecimento, responsabilização e acompanhamento dos quadros que merecendo importa superar”. .Ontem, foi eleito o novo Comité Central do PCP com seis votos contra e oito abstenções que hoje vai eleger a nova Comissão Política e o Secretariado do partido.