Os pais têm a obrigação de ser otimistas
Eu sei que não apetece, que é uma espécie de contraciclo e que está fora de moda, esta coisa do otimismo. Os filmes devem acabar mal, as utopias foram substituídas pelas distopias, o humor tem de ser negro, o pessimismo é o novo realismo e o otimismo uma mera infantilidade. Crescemos e a ingenuidade dos anos 50 já lá vai, assim como os musicais românticos, o viveram felizes para sempre, os bons que ganham invariavelmente aos maus e o amanhã que será um novo dia.
Crescemos, dizia eu. E hoje, o mundo é cada vez mais perigoso, os seus habitantes são todos ameaçadores e o futuro será certamente um lugar pior que o presente e é garantidamente muitíssimo pior que o passado. É preciso proteger, resguardar, desconfiar, esconder, sobreviver, resistir porque só os mais cautelosos não se magoam, só esses conseguem passar ilesos por esta vida. Da política à religião, da economia à cultura, dos costumes aos valores, o melhor seria fechar este mundo e começar a habitar Marte.
É neurótica a descrição? É. Mas é assim que educamos os nossos filhos, mostrando-lhes que o mundo e o futuro que os espera estão em chamas. Sem saber, quase por instinto de proteção, passamos para eles o nosso desencanto, os nossos medos do mundo que lhes deixamos. E temos medo que se magoem nele . Não vão, não falem, não lutem, não pensem, não discutam, não achem, não assumam lados, não se chateiem. Quanto menos tudo melhor. Viver é sobreviver. Até porque a época dos heróis morreu no século XX e nós somos pais do século XXI.
Ao espelho dizemos que somos cautelosos, mas não: somos apenas pessimistas. Somos chatos, pessoas desagradáveis, sem fé no mundo, nas pessoas que o habitam e - o pior de tudo - sem esperança. Quem de nós acredita que daqui a uns anos, é que vai ser, que o mundo será um lugar melhor? Nem meia dúzia. Entre a ameaça do fim dos tempos, o fim da ética e da moral ou uma invasão de extraterrestres, os cenários são todos assustadores.
Mas não devem ser: os cenários dependem das gerações futuras, dos filhos que nós educamos. Dependem do animo, da esperança e do otimismo com que essas gerações abraçam a vida. Mas se os guardamos debaixo dos nossos cobertores, os educarmos a terem medo do mundo ou de viver e os contagiarmos com o nosso pessimismo, a realidade passa a ser uma distopia. E a verdade é que não temos o direito de lhes fazer isso. O otimismo é um dever paternal.