Woke fazemos?
Nasci 11 anos depois do 25 de Abril. Portugal era ainda uma democracia adolescente, mas cresci com algo que é difícil imaginar viver sem: a liberdade.
Não consigo imaginar uma sociedade sem liberdade. Não consigo imaginar uma sociedade onde não possa dizer o que penso. Não consigo imaginar uma sociedade onde me seja imposto um pensamento comum e onde seja criticado, ou atacado, por pensar pela minha cabeça
Ou será que consigo?
Infelizmente, sim. Ao longo dos últimos anos, foi construída uma agenda que se tem focado em atacar valores que tradicionalmente são relevantes para a direita, para a democracia cristã: a fé, a família, o casamento.
Num breve resumo, podemos recuar, a título de exemplo, aos anos 90. Lembro-me bem o quanto tentaram desvalorizar a ideia de casamento, uma certa "elite de opinião" dizia que, ao contrário de Soares, casar não era fixe. Criticavam dizendo que o casamento estava fora de moda, era desnecessário. Portanto, os que queriam ter a "liberdade de não casar", queriam condicionar, criticando, a liberdade dos que queriam.
Desde aí, até aos dias de hoje, a agenda foi em crescendo. Temas de salvaguarda de direitos e liberdades foram, ao longo dos anos, tratados como armas de arremesso político e de batalha ideológica.
Nos últimos anos, uma agenda "woke", imposta e fiscalizada pela polícia do politicamente correto, tem pisado vezes de mais a linha da liberdade e respeito individual. Têm-no feito com convicção, a convicção do aproveitamento político e de privilegiar a luta da ideologia à luta da liberdade. A Sociedade tem de viver com regras, mas tem também de viver com princípios. A liberdade não é tema de agenda. Não é opcional, é de todos e para todos.
No ano em que celebramos os 50 anos do 25 de Abril como podemos tolerar que, entre muitos outros casos, a família Mesquita Guimarães tenha de lutar na justiça, com o Ministério da Educação, para salvaguardar o direito de educar para a cidadania os seus próprios filhos?! Como podemos ter liberdade, quando temos um país que não consegue ter salas de aula e professores ou blocos operatórios e médicos, de forma a garantir serviços mínimos, mas tem como prioridade discutir e legislar casas de banho mistas nas escolas?
O despacho sobre este tema foi aprovado em período de férias, e da forma mais discreta possível, para determinar as medidas que vieram a concretizar a lei da autodeterminação de género.
Onde está a liberdade em garantir que crianças “acedam às casas de banho e balneários, tendo sempre em consideração a sua vontade expressa e assegurando a sua intimidade e singularidade”?
Estamos a querer mudar leis, para mudar a sociedade, e tem de ser ao contrário. A sociedade tem de ir mudando, e depois é que a alteração legislativa deve acompanhar essa mudança. Lógico, não?
50 anos depois do 25 de Abril, temos um estado a querer programar a educação e a cultura a partir de diretrizes políticas, ideológicas, estéticas e religiosas. Temos a polícia do lápis azul a ser reeditada 50 anos depois pela brigada da caneta (ou será caneto ou canete?) vermelha.
Woke fazemos?