Washington empurrará Londres para Bruxelas?
Em janeiro passaram-se 5 anos desde a saída efetiva do Reino Unido da União Europeia. Para assinalar a data, realizaram-se sondagens acerca da perceção dos britânicos sobre o Brexit, em que a maioria se mostra desiludida com as suas consequências, mas, e ao mesmo tempo, há um crescimento do apoio ao partido político que mais defende a saída do Reino Unido da UE. A somar à aparente contradição entre a avaliação das consequências do referendo e o apoio ao partido anti-UE, o governo britânico declarou que Londres não está obrigada a escolher entre Washington e Bruxelas.
No entanto, as condições que permitiram o Brexit estão a desaparecer. De facto, não sabemos o que acontecerá ao Direito Internacional, ao comércio mundial, aos mecanismos de Defesa que permitem a paz e o desenvolvimento económico e social um pouco por todo o lado e, em particular, no Atlântico Norte, mas os recados que o vice-presidente americano deixou em Munique apontam para a necessidade de as democracias europeias e o resto do mundo repensarem e aprofundarem os seus mecanismos de cooperação.
Em particular, vai ficando cada vez mais óbvia a necessidade de a Europa ser capaz de ultrapassar as diferenças que a separam, reforçarem os mecanismos que permitam promover os instrumentos e as políticas que defendem os valores da Carta das Nações Unidas, a liberdade comercial prevista na Organização Mundial do Comércio, o respeito pelos Direitos Humanos que enformam o Tribunal Penal Internacional ou o financiamento do desenvolvimento do Banco Mundial.
Significa isto que poderemos assistir ao regresso do Reino Unido à UE? Provavelmente não haverá condições políticas para tanto, pelo menos no futuro próximo. Mas isso não quer dizer que não tenhamos instrumentos que permitam começar a reconstruir os laços entre Londres e Bruxelas, como é o caso da EFTA - Associação Europeia para o Comércio Livre, que tem servido de mecanismo de cooperação entre a UE e a Noruega, a Suíça, a Islândia e o Lich- tenstein e que permite o acesso regulado ao mercado interno europeu e a um número significativo de políticas comuns da UE, sem significar a sua integração formal nas instituições europeias.
Qualquer pessoa sensata sabia que a decisão de abandonar a UE teria custos económicos e políticos importantes. Mas a realidade, reforçada pela pandemia, pela a guerra e, agora, pela eleição de Trump, foi muito mais severa do que as previsões mais pessimistas poderiam antecipar. Parece cada vez mais claro que os interesses do conjunto do continente deverão passar por uma nova relação política, económica e de Defesa entre Londres e Bruxelas, mesmo que não tenhamos de reverter formalmente o Brexit. Para isso, precisamos de bom senso nos dois lados do Canal da Mancha.
Professor Convidado IEP/UCP e NSL/UNL