Vamos falar sobre cancro digestivo?

O cancro é uma doença muito frequente na população portuguesa e europeia. Por ano, são diagnosticados cerca de 70.000 novos casos de cancro em Portugal, sendo das principais causas de morte e de diminuição da qualidade de vida. 

O diagnóstico precoce, quer pela realização de exames em pessoas saudáveis, quer pela investigação precoce de sintomas, pode salvar vidas. O cancro do intestino é um exemplo de um tumor que se pode prevenir: normalmente desenvolve-se muitos anos antes, em lesões pré-malignas, os chamados pólipos, que podem ser removidas na colonoscopia, sem necessidade de uma cirurgia. O doente fica curado e fica feita a prevenção. 

O cancro digestivo compreende um grupo de tumores que afetam o tubo digestivo, incluindo o esófago, o estômago e o intestino, assim como órgãos anexos, do fígado às vias biliares e ao pâncreas. No seu conjunto, representam os tumores que têm maior incidência e mortalidade. O cancro digestivo mais comum é o do intestino, chamado cancro colorretal porque afeta o cólon e o reto. Aquele que apresenta maior mortalidade é o do pâncreas, que se prevê que irá tornar-se num problema de saúde pública, no futuro.

É, por isso, fundamental falar com o seu médico de família sobre a realização dos exames de deteção precoce do cancro colorretal, sobretudo se tiver mais de 50 anos. No entanto, pode ser necessário realizar uma colonoscopia antes desta idade, para investigar sintomas como a alteração dos hábitos do intestino, a existência de sangue nas fezes, dor abdominal, perda de peso sem razão e anemia. Também se existirem casos na família, pode ser necessário realizar a colonoscopia mais cedo.

Outro cancro digestivo com incidência elevada no nosso país é o cancro gástrico. Está a ser planeado um estudo piloto de deteção precoce deste tipo de cancro, no Norte do país, por ser uma região onde a incidência é particularmente elevada. É importante estar atento a sinais como dificuldade em fazer as digestões, perda de apetite, emagrecimento, enfartamento e vómitos persistentes. Neste caso, é fundamental realizar uma endoscopia digestiva alta, e pesquisar a presença de uma bactéria - a “Helicobacter pylori”. Quando esta bactéria é detectada, deve ser eliminada através de antibióticos e protetores gástricos.

O cancro do esófago é raro, mas está associado a fatores de risco bem conhecidos: álcool e tabaco, devendo estes hábitos nocivos serem eliminados. Quando surge dificuldade ou dor em engolir, sobretudo quando persiste ao longo do tempo, é importante consultar o médico, para excluir ou confirmar a sua existência. O exame para o seu diagnóstico é a endoscopia alta. 

Os tumores do pâncreas são silenciosos e têm elevada taxa de mortalidade. Sempre que surja emagrecimento inexplicado, dor abdominal ou nas costas e icterícia (pele de cor amarela) deve procurar-se imediatamente ajuda médica. Já os tumores do fígado surgem normalmente associados ao abuso do álcool e às hepatites. Sempre que tiver estes problemas de saúde, deve ser seguido regularmente pelo seu médico assistente, para diagnóstico precoce.

Cerca de um terço dos cancros podem ser prevenidos, com uma mudança dos hábitos de vida, nomeadamente adotando uma alimentação saudável, não beber álcool, não fumar, não ter excesso de peso e fazer exercício físico regular.

As dúvidas relacionadas com o cancro digestivo surgem com muito frequência entre a população portuguesa, por ser particularmente prevalente e agressivo – e esclarecê-las é fundamental. É neste sentido que o Hospital CUF Tejo vai promover a sessão “Vamos falar sobre o cancro digestivo”, de entrada livre e dirigida a doentes oncológicos, familiares e cuidadores, no dia 27 de abril, das 10.00 às 11.30, como uma oportunidade informal para os participantes colocarem as suas dúvidas a um grupo de profissionais dedicados e com muito experiência no tratamento deste tipo de cancros.