Valorizar a diáspora
Portugal é um país com uma longa tradição de emigração. Porém, nem sempre o potencial da diáspora portuguesa é devidamente aproveitado em termos de defesa dos nossos interesses nacionais.
Numa conferência que ontem teve lugar no Centro de Estudos Jurídicos, Económicos e Ambientais da Universidade Lusíada do Porto, sobre A Diáspora como Fator Estratégico da Política Externa Portuguesa, o deputado José Luís Carneiro defendeu que, apesar de possuir hoje “uma centralidade superior ao passado, ainda é necessário realizar um trabalho mais qualitativo e aprofundado de todos os elementos — e entidades — da diáspora portuguesa que influenciam as estruturas económicas, sociais e políticas dos países de acolhimento”.
O ex-ministro da Administração Interna e antigo secretário de Estado das Comunidades, deu como exemplo a “importância decisiva” que os representantes políticos de origem portuguesa nos Estados Unidos tiveram para a defesa do referendo de autodeterminação de Timor-Leste ou, mais recentemente, a força da diáspora em vários territórios para o apoio à candidatura de Guterres a secretário-geral da ONU.
José Luís Carneiro está certo: temos de olhar para a diáspora como um ativo extraordinário que pode ajudar Portugal a defender os seus interesses no mundo, bem como os de outros países lusófonos com quem partilhamos valores e afinidades.
Em certa medida, e tal como demonstram os exemplos referidos pelo também colunista do DN, Portugal é um país que por vezes consegue fazer aquilo que os ingleses chamam de “punch above its weight”, em parte graças à importância da Lusofonia, como se viu na recente presença na cimeira do G20 a convite do Brasil. Mas também devido à sua numerosa diáspora, que inclui académicos, cientistas, empresários, jogadores de futebol, artistas e muitos outros profissionais.
Em países como França e os Estados Unidos, temos vários políticos luso-descendentes que mantêm a ligação à terra dos antepassados, como João Martins Pereira (conselheiro municipal em Charenton e vice-presidente dos Jovens Socialistas Europeus) Devin Nunes (conselheiro de Trump) ou os congressistas Jim Costa (democrata que representa a Califórnia no Congresso) ou David Valadao (republicano eleito pelo mesmo Estado).
É uma diáspora composta por pessoas de todas as idades e diferentes níveis de escolaridade, que se adaptaram com sucesso aos países de acolhimento, mas que continuam a sentir-se portuguesas. Como alguém disse em tempos, é possível tirar o português de Portugal, mas não se consegue tirar Portugal do português.
Nos últimos anos tem-se feito um esforço para que haja uma maior ligação entre Portugal e a sua diáspora, mas é necessário uma estratégia de médio e longo prazo que permita aproveitar ao máximo o potencial, para o nosso país, dessa relação com as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Até porque, num mundo de comunicações instantâneas, é possível “manter” em Portugal quem não vive cá todos os dias.
Diretor do Diário de Notícias