Vale a pena mudar de Governo?
Aprendemos com o processo que levou à convocação das próximas Eleições Legislativas que, em Portugal, o que faz cair Governos suportados por uma maioria relativa na Assembleia da República não é a degradação de serviços públicos essenciais, como o Serviço Nacional de Saúde; não é a forma como se inventam, reduzem ou aumentam impostos, sistematicamente a serem melhores para o mundo dos negócios e piores para o mundo dos trabalhadores; não é a forma como se imaginam maneiras para a especulação imobiliária e o preço das casas continuarem a crescer, com leis erradas sobre habitação e solos; não é a gestão, nem os investimentos dos fundos comunitários atribuídos ao famoso PRR; não é a falta de investimento público e o apoio do Estado à produção industrial do país; não é a crescente dependência do turismo volátil; não é o abandono a que estão votadas as pequenas e médias empresas; não é pelas mudanças curriculares na Educação, que cedem à pressão feita pelas correntes católicas mais conservadoras; não é pela incompetência de um ministério que, perante uma greve na Emergência Médica, se esquece de organizar os serviços mínimos; não é a indiferença com que se olha para o acréscimo de lucros de bancos e de grandes empresas, sem que os salários dos trabalhadores subam na mesma proporção; não é passar impune a prescrição de multas de milhões e milhões de euros impostas pela Autoridade da Concorrência ao “cartel da banca” e que nunca serão pagas; não é o fechar de olhos ao desvio de capital para paraísos fiscais; não é uma conceção de Segurança Interna social e racialmente discriminatória, que inopinadamente encosta filas de pessoas a paredes para inúteis revistas policiais; não é a privatização da TAP; não é a construção do TGV; não é o caos em muitos transportes públicos, como na Fertagus; não é o relançamento de PPPs para hospitais; não é a gestão da dívida pública e do défice; não é a legislação, a regulamentação e a aplicação de medidas de combate à corrupção; não é pela aceitação, cega e subserviente, de uma política da União Europeia que a leva à degradação económica, à perda de valores democráticos, à insegurança militar, ao conflito desnecessário que causa guerras e centenas de milhares de mortos.
Mesmo com visões que, ponto a ponto, podem ter algumas diferenças, nada disto leva PSD, PS, Chega, IL e CDS a assumirem ruturas nas políticas gerais que levem à queda de um Governo - no essencial, com mais ou menos Estado, com mais ou menos negociatas, com mais ou menos autoritarismo, o resultado final é muito parecido.
Aprendemos com o processo que levou à convocação das próximas Eleições Legislativas que, em Portugal, o que faz cair Governos suportados por uma maioria relativa não são as políticas que afetam a vida da população, mas sim o comportamento ético dos protagonistas políticos... É um motivo relevante para essa rutura, sem dúvida, mas a substituição de um primeiro-ministro por falta de ética, sendo justa, não resolve os problemas da governação do país, não resolve os problemas dos cidadãos.
Vale a pena mudar de Governo? Talvez, se essa mudança suscitar a alteração de, pelo menos, algumas das políticas do costume.
Jornalista