Usar o chat GPT na universidade? Sim!
O chat GPT é um chatbot de Inteligência Artificial (IA) gerador de texto. Funciona através de um sistema de perguntas e respostas, em que o utilizador coloca uma questão, e a IA, tendo por base toda a informação disponível em sistema aberto na internet, responde. A questão pode ser colocada da forma que melhor entendermos, mas obviamente, quanto mais refinada for a questão e quanto mais lógico o alinhamento de perguntas e respostas, mais plausível e confiável será o texto produzido, sendo maior a acurácia neste caso do que no caso de serem feitas perguntas demasiado simples ou descontextualizadas. O chat GPT encontra as respostas às questões pesquisando em variadíssimas fontes, desde artigos, a ensaios e outros documentos disponíveis na net. E como sabemos que na internet é possível encontrar todo tipo de informação, também é razoável esperar que nem todas as fontes utilizadas sejam confiáveis. A vantagem é que pesquisará sobre um elevado número de fontes, muito mais rapidamente do que qualquer investigador treinado. E nas versões mais atualizadas, estes sistemas de IA vão também aprendendo com o alinhamento conversacional já existente em conversas com outros utilizadores, pelo que se espera que as versões mais atuais sejam cada vez mais sofisticadas em relação a versões anteriores. A primeira versão tem apenas 3 meses.
A questão que se coloca é: sendo que os alunos são, também, avaliados pela sua capacidade de produção de textos, fará sentido que entreguem um ensaio produzido pelo sistema de IA como se fosse seu, apenas porque com aquele tiveram uma "conversa" sobre um determinado tema? Estará de certa forma a sua capacidade de pesquisa plasmada no texto que o sistema produziu? E como poderá o docente saber se o documento é originalmente seu, ou produzido com base no bot?
Todos os professores sabem que os alunos, apesar das suas competências de vária ordem, nem sempre são, todos, igualmente bons na capacidade de escrita. Ao nível do ensino superior, esta é talvez uma das competências, que mais se tem ressentido com a utilização de alguns equipamentos... E não deixa de ser um fator preocupante, porque a dificuldade de verbalizar ou de produzir um texto alinhado com princípio, meio e fim é uma perda significativa no portfólio de competências de um indivíduo que se esteja a preparar para o mercado de trabalho, seja em que área de trabalho for. Neste sentido, não ser capaz de produzir um texto de sua autoria, em que fique plasmada a sua capacidade de pesquisa, de organização de raciocínio e de argumentação, pode efetivamente ser um problema. Porém, complementar a capacidade de pesquisa com recurso a mais fontes, não pode ser mau... Tudo vai depender da capacidade de perguntar as questões certas e de de ir além das respostas que forem sendo produzidas. Tudo vai depender da capacidade de confrontar as informações fornecidas, com evidências paralelamente procuradas. Tudo vai depender do sentido crítico aplicado à resposta obtida. E tudo vai depender ainda da forma como as pesquisas produzidas pela IA vão ser manuseadas de forma a responder em concreto ao desafio levantado. Neste sentido, o acesso a mais informação, não pode ser mau. É mais um meio, mais uma via de acesso, a mais fontes de informação. A ferramenta, em última análise, permite potenciar a aprendizagem, e pode, inclusivamente, fazer os docentes aumentarem as suas expectativas em relação àquilo que possa ser considerado um trabalho aceitável, exigindo mais, dada a existência de uma ferramenta tão poderosa. E assim, o uso de sistemas de geração de texto com recurso a IA, será tão mais vantajoso quanto melhor formuladas forem as perguntas colocadas.
Uma das vantagens do chat GPT ou outros sistemas avançados de IA geradores de texto é que a pergunta inicial - sendo bem feita - dá origem ou uma boa resposta, e há uma espécie de alinhamento natural dado que o sistema tem capacidade de reconhecer a sequência que a conversa está a ter. E há um conjunto de conceitos e definições que não precisam ser explicitados porque vêm novo decorrer do tema que foi anteriormente levantado nas perguntas anteriores. Para além disso, alguns sistemas têm a capacidade de aprender com pesquisas que já foram feitas antes, no mesmo sentido, e de pesquisar em fontes de melhor qualidade, nomeadamente artigos científicos, e fazendo uso de investigação já chancelada por pares. É o caso do Bing chat que neste momento já tem fila de espera para novos aderentes... A expectativa é grande!
O debate em termos académicos tem-se centrado sobretudo na permissão ou não dos alunos usarem estes sistemas nos seus computadores ou smartphones durante as aulas, dado que em casa é inevitável que o façam. Mas independentemente disso, uma coisa é certa: a academia, que é por definição a envolvente em que a investigação, educação e ensino têm lugar, não pode alhear-se do desenvolvimento de novas ferramentas, e deve, antes de mais, manter-se na vanguarda tecnológica; não apenas quando eventos como a pandemia surgem inesperadamente e assim o exigem. Mas também quando outros avanços se verificam no contexto da tecnologia. É fundamental que sejam as próprias instituições as primeiras a aprenderem a lidar com a mudança e até a promovê-la. Faz parte da sua missão educar as novas gerações em relação ao uso responsável da tecnologia, não impedindo, por isso, a sua utilização em contexto de sala de aula. Daí que o grande desafio seja, portanto, o de entender de que forma é que esta tecnologia, em vez de diminuir o processo de aprendizagem, pode estimulá-lo, colocando-a ao serviço da produção de conhecimento. E é neste sentido que os professores devem encarar o desafio: adaptar-se e criar competências para promover um ensino dinâmico e atualizado às novas ferramentas. E não resistir.
A chave passa, no meu entender, pela construção de uma abordagem pedagógica, construtiva e positiva, em que é melhor aceitar as inovações e trazê-las para dentro da academia, em vez de resistir à mudança: ela vai acontecer, mais tarde ou mais cedo e a ritmos acelerados. O melhor é prepararmo-nos já! Assim, talvez seja melhor compreender de que forma podemos então permitir que os alunos usufruam livremente desta ferramenta, sem prejudicar o seu processo de aprendizagem, e permitindo que o docente mantenha as suas funções de ensino, como é habitual. Um docente é, acima de tudo, um educador, devendo estar preparado para ajudar os estudantes a adquirir conhecimentos e competências. Uma boa solução prática para lidar com estes sistemas de IA pode passar por promover exercícios em que se pede especificamente que a ferramenta em questão seja usada. É possível fazer-se neste caso, uma inversão de papéis, permitindo que o chat GPT se transforme no aluno e o estudante se transforma no professor, avaliando o seu output. Digamos que a IA produz um primeiro draft, que o aluno vai ter de clarificar, providenciando evidências e testando algumas fontes, de forma a melhorar o draft inicial. Este trabalho pode ainda ser mais importante, dado que o chat GPT muitas vezes se baseia em informação que não é completamente verdadeira, ainda que esteja, amplamente disponibilizada na internet. Assim, os alunos são estimulados a demonstrar sentido crítico e capacidade de verificação dos factos. Revelar os factos que foram validados e os que não se conseguiram demonstrar, pode fazer parte de um exercício interessante, sendo a parte de verificação e análise um
estímulo à reflexão do aluno e demonstração da sua aprendizagem. Apontar as implicações de considerar informação não validada, como informação correta, também faz parte do processo de aprendizagem. Da mesma forma, aprender a colocar a questão certa ao sistema, também ajuda a dele obter os melhores resultados. Uma dica final passa por perguntar à própria IA qual a melhor pergunta a colocar caso se pretenda fazer um bom trabalho sobre um determinado tema. E por fim, convém não perder de vista que quanto mais específicas forem as questões, maior a probabilidade de se obterem resultados com valor, sobretudo numa série de interações sucessivas com o sistema.
Já ficou com vontade de experimentar o chatGPT? Sim? Então basta ir a https://chat.openai.com e criar a sua conta. Enquanto este sistema de processamento natural de linguagem estiver em fase de aprendizagem, não paga nada pela versão de base. Vá, experimente!
Docente da Católica Porto Business School