Umas eleições em que algo pode mudar, para que fique tudo na mesma

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As eleições deste domingo não deverão, provavelmente, dar origem a mais um governo minoritário que estará dependente das boas graças dos partidos representados na Assembleia da República. De acordo com as sondagens, o cenário mais provável será o de uma vitória da AD, sem maioria. A concretizar-se esta possibilidade - e se não for possível uma coligação pós-eleitoral que assegura uma maioria parlamentar - estas eleições terão servido essencialmente para dois propósitos: por um lado, legitimar a continuidade de Luís Montenegro à frente do Governo e do PSD, após o caso Spinumviva. Por outro, promover uma mudança de liderança no Partido Socialista, com figuras como Fernando Medina e José Luís Carneiro a posicionarem-se como possíveis candidatos à sucessão de Pedro Nuno Santos. Mesmo que o líder socialista se mantenha na liderança, após uma eventual derrota nas eleições deste domingo, estará provavelmente a prazo. Claro que, em política, nada está escrito na pedra e o líder do PS poderá aguentar-se até às autárquicas, mas diria que o cenário mais provável, dependendo do nível da derrota, será este.

O que, a concretizar-se, nos colocará perante aquela que será a grande mudança tangível que estas eleições permitirão. O próximo líder do PS dificilmente terá a veia esquerdista de Pedro Nuno Santos, quer porque os potenciais sucessores são, na sua maioria, do campo moderado, quer porque de há alguns anos para cá o país virou à direita. Nesta campanha eleitoral, Pedro Nuno Santos tem sobretudo pregado aos convertidos, retirando mais votos aos partidos à sua esquerda do que no eleitorado do centro e do centro-direita. Mais, Pedro Nuno Santos abriu inclusive o flanco numa parte do eleitorado que, pelo menos em teoria, deveria ser mais sensível às teses socialistas. Perante uma greve na CP que se arrastou durante dias a fio e que penalizou sobretudo pessoas que dependem dos transportes públicos para poderem trabalhar, o líder do socialista colocou a ênfase na proteção do direito à greve, esquecendo-se que uma grande parte dos trabalhadores por conta de outrem em Portugal olha para os maquinistas e revisores da CP como uma espécie de aristocracia sindical. Em contrapartida, Luís Montenegro, sem deixar de frisar que o direito à greve deve ser respeitado, não deixou de apelar ao bom senso na utilização deste instrumento. Esta é uma visão simplista e quiçá até injusta, para Pedro Nuno Santos, do que sucedeu nesta greve da CP, mas a percepção que ficou para o público foi esta.

De resto, o líder do PS, seja ele Pedro Nuno Santos ou outra personalidade, tem um problema urgente para resolver, que é o facto de o partido estar a ficar para trás nas preferências do eleitorado jovem, de acordo com os estudos de opinião. O PS arrisca-se a cristalizar como um partido envelhecido, muito associado a algum funcionalismo público e aos reformados. O que está a falhar na sua comunicação e que explica o facto de não estar a chegar aos jovens? São as políticas que propõe? É o facto de os jovens de hoje terem crescido durante os longos anos dos governos de António Costa e procurarem algo diferente? Esta reflexão não é, obviamente, algo que se exige apenas ao PS, porque o mesmo sucede noutros partidos. Mas se o PS quiser continuar a ser um dos dois grandes partidos do regime democrático terá de, muito rapidamente, oferecer soluções inovadoras para os problemas dos jovens.

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