Sempre que falo com amigas e amigos sobre Luís Montenegro surge a habitual afirmação: “É pá o gajo não tem carisma!”.Vou à procura do significado de carisma e agarro-me aos termos finais do mesmo: alguém que “possui um conjunto de qualidades que o caracterizam como um sujeito notável, admirável ou fascinante aos olhos de outros indivíduos”..Pois bem! No meu percurso profissional conheci Luís Montenegro como líder parlamentar da bancada social-democrata. Foi eficaz, afirmativo, contundente quando defendeu o governo de Passos Coelho. Foi acutilante, combativo e demolidor quando enfrentou o projecto político da gerigonça de António Costa..Nos dias de hoje e como líder da oposição, já desencadeou um conjunto de acções concretizadas by the book..Começou por percorrer as concelhias, num exercício de unidade das hostes social- democratas e teve sucesso. Hoje, são seus apoiantes sociais- democratas que estavam próximos de Rui Rio..Nomes como Ana Paula Martins, Ricardo Batista Leite e Hugo Carneiro..Portanto, uniu o PSD..Percorreu, também, o país num contacto com as populações para sentir as suas preocupações e anseios..Lançou um manifesto que contou com adesões provenientes do universo socialista (Daniel Bessa), figuras da cultura (Rui Massena) ou do show business (Manuel Goucha). Tudo perfeito, portanto..Depois, Montenegro avançou com algumas propostas nas áreas governativas. Baixa de impostos (IRC e IRS), e ainda contributos na área de saúde e da segurança social. Aqui um roteiro ainda incompleto..O que falta então a Luís Montenegro para se afirmar, totalmente, como candidato a primeiro-ministro?.Pois, falta o tal carisma!.Contudo, eu penso que falta a Montenegro algo mais. O líder do PSD tem hoje uma postura diferente da que teve no Assembleia da República enquanto líder parlamentar. Como candidato a primeiro-ministro exagera, hoje, na postura institucional. Vai longe de mais na preocupação de conquistar o centro político. Fala de mansinho, mostra pouca combatividade. Portanto, um pouco insipido! E vai avançando com algumas atoardas para preencher o espaço mediático (Pipis, bandalheira e gambuzinos). Demasiado preocupado com a conquista do poder, Luís Montenegro é prudente (e parco) nas propostas que apresenta. Receia colocá-las na praça pública para que estas não sejam escrutinadas e não se transformem no foco político da campanha eleitoral..Contudo, Montenegro parece ter esquecido que muito mais à sua direita há o suspeito do costume, o Chega! Sim, o Chega que, na sua lógica populista, não deixa nada de pé em termos de oposição. Com a habitual gritaria vai arrebanhando descontentes e insatisfeitos com a política vigente. Ventura fala com frases curtas, mas eficazes. É tonitruante nas críticas que faz. Ali há violência verbal e não sentido de Estado ou postura institucional. Com isto tem sido mais produtivo no exercício da oposição do que Montenegro. Numa espécie de vale tudo político, André Ventura entra no lúmpen nacional, conquista faixas no que há de mais básico na sociedade portuguesa, vai arrebanhando votos a todos os partidos. A oposição de André Ventura é um exercício de permanente rotura com o politicamente correcto e institucional..Daí que, talvez, Montenegro precisasse de acentuar mais o modo como faz oposição. Mostrar um pouco mais o jogo, colocar mais propostas em cima da mesa do debate eleitoral, ser mais actual e incisivo nas críticas ao governo..Será, assim, que se ganha carisma?.Sabemos que na lógica da recente formação da Aliança Democrática é o dirigente centrista Nuno Melo que está a “fazer as despesas” de uma oposição mais aguerrida e mais próxima do modus faciendi do populismo do Chega..Mas quem é o candidato a primeiro-ministro é Luís Montenegro. É sobre ele que recai o foco da expectativa nacional de mudança..Assim, na contenda politica, Dr. Luís Montenegro, talvez um pouco mais de sal e pimenta não fosse má ideia para o tal carisma que parece faltar..Jornalista