Um (novo) TRIUNFO, no Mosteiro da Batalha

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Numa crónica banal, eu começaria por dizer que Virgil Scripcariu, artista que irá expor no Mosteiro da Batalha a partir do próximo dia 1 de setembro, é um dos mais reputados e conhecidos escultores romenos da sua geração.

E continuaria, provavelmente, a fazer encómios ao seu percurso artístico: licenciado em Belas Artes, ganhou a bolsa Theodor Aman para Artes Visuais, oferecida pelo Governo da Roménia. Em 2007, representou a Roménia na Europália/Bruxelas; em 2008, fez parte da equipa de exposição na Bienal de Arquitetura de Veneza, com design e conceito de exposição; tem participação em feiras de arte internacionais e é autor de obras públicas na Roménia e em vários países europeus. Em 2023, foi-lhe atribuído o Prémio de Escultura pela União dos Artistas Plásticos da Roménia.

Mas não se pode ser banal, quando damos conta de que Virgil Scripcariu pertence a uma geração de artistas romenos contemporâneos (que tenho a felicidade de conhecer em parte por via de Mircea Roman e Florentina Voichi, cuja obra já foi exposta no Mosteiro da Batalha) que aliam um saber do ofício de altíssima qualidade técnica a uma obra artística marcada por um pensamento sobre a vida e o mundo, muito nessa convicção tão liminarmente expressa pelo cineasta Tarkovsky, de que todo o artista, porque vê para além do seu tempo, tem a responsabilidade de melhorar, através da sua arte, o mundo em que vive.

Nesse sentido também, as instalações artísticas de Virgil Scripcariu expressam muitas delas uma mensagem ecológica, social e espiritual.

Não é banal dizer que Virgil faz parte da comunidade A Roménia das Tradições Criativas, e que tendo-se mudado em 2006 com a família para Piscu - uma antiga aldeia de oleiros, perto de Bucareste -, aí lançou, conjuntamente com a sua mulher, Adriana Scripcariu, historiadora de arte, um projeto de investigação e valorização do seu património cultural. Em 2021, inauguraram o Museu-Oficina Escola de Piscu - um polo cultural dedicado à cerâmica camponesa e às técnicas tradicionais, bem como à arte contemporânea. O projeto é reconhecido a nível europeu, tendo recebido o Prémio Europa Nostra 2022, na secção Educação, Formação, Artesanato.

Impressionado pelo Mosteiro da Batalha, fascinado pela dualidade entre o bem e o mal, consciente de que desde Caim e Abel vivemos uma história de conflitos, Virgil Scripcariu quer afirmar nesta exposição toda a beleza que a Humanidade, ainda assim, pode criar, acreditando, em última análise, no milagre do triunfo da paz.

Inspirando-se numa das gárgulas do Mosteiro, muitas delas símbolos do mal e do pecado, Virgil Scripcariu criou uma obra original de grandes dimensões que deu o mote à exposição. Uma obra que, até abril do próximo ano, irá marcar a fachada principal do Mosteiro - o início de um percurso inspirador e cuja visita se recomenda.

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