Um novo padrão de cuidados de saúde
Num século XXI centrado nos cidadãos é premente iniciar a discussão de como nos podemos tornar agentes mobilizadores das mudanças necessárias dos sistemas de saúde.
A Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) é uma das organizações signatárias da Carta Global, proposta pela Aliança das Doenças Crónicas Não Transmissíveis (organização mundial - NCD Alliance), que faz um apelo aos governos, líderes políticos e institucionais para considerarem o envolvimento significativo das pessoas que vivem com uma determinada doença nos processos de tomada de decisão em saúde.
Este é um tempo em que exigimos às pessoas que vivem com doenças que sejam cada vez mais os gestores dos seus cuidados e exigimos aos cidadãos que assumam a responsabilidade dos seus comportamentos e estilos de vida, no sentido de adotarem um caminho mais saudável. Mantemos, no entanto, estes intervenientes (que somos todos nós!) longe da discussão da avaliação das suas necessidades, dos modelos de respostas que devemos organizar, dos recursos a disponibilizar, de novas formas de financiamento focadas em resultados relevantes para os próprios.
Este deverá ser o tempo de envolver as pessoas e as comunidades nas diferentes etapas dos processos de saúde, desde o planeamento, à implementação, monitorização e avaliação. Quanto mais estes processos forem criados em conjunto com as pessoas a quem se dirigem, mais relevantes, apropriados, escaláveis e sustentáveis serão e só assim conseguiremos o progresso em saúde e o bem-estar das populações.
Envolver significativamente é, por um lado, dar voz a quem precisa e quer ser ouvido, e, por outro, reconhecer o valor do conhecimento e da experiência das pessoas como fundamental para uma abordagem que compreende compromisso, responsabilidade e confiança mútua.
Para que este envolvimento significativo aconteça é imperativo criar mecanismos que estimulem uma participação sustentada, com especial enfoque nos grupos normalmente sub-representados nos processos de tomada de decisão, combatendo barreiras e abordando desequilíbrios de poder, desigualdades e iniquidades. As organizações da sociedade civil, pela sua proximidade na ação, podem funcionar como agentes de ligação, representando uma variedade diversa de constituintes, temas e práticas e multiplicando o impacto do envolvimento.
As autarquias podem e devem desempenhar um papel mais importante em todo este processo, constituindo-se como amplificadoras da cidadania participativa das suas populações e promotoras de programas de saúde e bem-estar que funcionem em articulação com os serviços de saúde e as organizações da sociedade civil. Nesse sentido, a APDP lançou o repto aos candidatos autárquicos, sugerindo a implementação de respostas locais, coordenadas e integradas.
É agora, para nós mais claro perceber como devemos organizar a resposta a uma pandemia e do nível de recursos e envolvimento da comunidade necessários para garantir o sucesso. Ainda vivemos na pandemia da Covid-19, mas não deixamos de viver na pandemia da diabetes, da obesidade, da hipertensão e de outras doenças crónicas.
Queremos e temos capacidade para vencer estes desafios?
Diretor Clínico da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal