Um brinde ao sucesso do vinho português na América

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Os americanos gostam de vinho português desde ainda antes de os Estados Unidos nascerem como país, há dois séculos e meio. É bem conhecido que o brinde em Filadélfia, a 4 de julho de 1776, pelos signatários da Declaração de Independência foi feito com vinho da Madeira e que George Washington e Thomas Jefferson, os dois mais famosos Pais Fundadores, eram grande apreciadores desse vinho generoso produzido na ilha portuguesa. E há poucos anos, a descoberta numa parede falsa de um museu em New Jersey de umas caixas com Madeira encomendado para celebrar a eleição de John Adams em 1796 como 2.º presidente, sucedendo a Washington, foi notícia nos grandes jornais americanos, tal como o leilão mais tarde. Uma garrafa de Lenox Madeira, importado em 1796 por Robert Lenox, engarrafado dois anos depois e reengarrafado em 1888, rendeu quase 16 mil dólares num leilão em 2018 da Christie’s, em Nova Iorque.

Noticia hoje o DN que em 2024 os Estados Unidos tornaram-se o maior importador de vinhos portugueses em valor, 95 milhões de euros no acumulado entre janeiro e novembro. A França passa assim a ser o segundo mercado para Portugal.

O crescimento das exportações para os Estados Unidos, país que é o primeiro consumidor mundial de vinhos, é um bom sinal para Portugal, sublinha em declarações à jornalista Ilídia Pinto o presidente da ViniPortugal, Frederico Falcão. E a promoção passa por alargar o número de cidades em que a marca Portugal vai ser promovida, com Austin e Atlanta a somarem-se a Boston, Nova Iorque e Los Angeles.

Há muitos consumidores a conquistar, pois entre os 50 Estados há vários onde a presença dos vinhos nacionais ainda é mínima, e existe, pois, grande margem para progressão, acrescenta Frederico Falcão, que admite haver incerteza com a futura Administração Trump sobre o agravamento de tarifas nos produtos importados, dado as declarações protecionistas do presidente que vai tomar posse a 20 de janeiro. Mas mais complicado, acrescenta, é o lobby anti-álcool.

Num mercado rico, que tem bons vinhos produzidos na Califórnia, o fator qualidade é essencial na compra ao estrangeiro, e nisso Portugal tem créditos a apresentar, sendo que a imagem em geral positiva do país, reforçada nos últimos anos com o aumento do número de turistas americanos, acrescenta um glamour de Velho Mundo muito valorizado. Os nossos embaixadores, aliás, bem sabem disso e daí a importância do vinho na receção habitualmente oferecida no 10 de Junho.

Numa recente viagem aos Estados Unidos, comprovei a facilidade de comprar vinho português na capital, uma Washington D.C. que se rendeu aos wine bars, mas fiquei surpreendido por ver em Louisville, cidade do Kentucky célebre pelo bourbon, várias marcas de Porto à venda e também um Madeira da Sandeman. E em Seattle, no Estado de Washington, até alvarinho encontrei, no caso num restaurante português, que oferecia vários brancos e tintos nacionais para acompanhar uma ementa que ia do bacalhau e das lulas grelhadas, à carne de porco à alentejana.

A competitividade da economia portuguesa passa pelos produtos inovadores, mas também convém não esquecer a força dos produtos tradicionais, sobretudo aqueles potencialmente de grande valor acrescentado, como os vinhos. A aposta também, em 2025, no mercado americano é bem pensada, e mostra ambição dos responsáveis do setor do vinho, mas sobretudo o ano de 2026 oferece uma oportunidade única de valorização na marca Portugal. Quando os Estados Unidos celebrarem 250 anos como país - e será com grande pompa e circunstância - há que relembrar que o revolucionário corte com a Coroa Britânica, simbolizado num magnífico texto de Jefferson, foi brindado com vinho português.

Diretor-adjunto do Diário de Notícias

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