Turismo: a rota certa num país em contramão
Vivemos tempos em que tudo parece sujeito a mudança. Ciclos políticos cada vez mais curtos, debates mais ruidosos do que estruturantes, decisões que se atropelam em vez de se alinharem com uma visão de futuro. É neste cenário que voltamos a eleições legislativas, e com estas, à inevitável incerteza.
Não posso deixar de sublinhar o impacto real e imediato que esta instabilidade tem na tomada de decisões. As empresas, sobretudo as micro e PME que constituem o grosso do nosso tecido económico, não investem no vazio. Adiam investimentos. Hesitam em contratar. Esperam — como quem observa o desfecho de um jogo aos solavancos — por saber que regras terão de cumprir, porque o seu futuro depende disso.
Talvez por isso o Turismo tenha conseguido um percurso tão sólido nas últimas décadas, ao contrário de outras atividades. E porquê? Porque, apesar das mudanças de cor política, houve um fio condutor nas políticas públicas para o Turismo, uma espécie de pacto implícito que nos diz: o que está bem, não se muda, o que está feito, não se estraga. Com uma natural diferença de estilo e abordagem, mantiveram uma lógica de continuidade e apostaram, com maior ou menor intensidade, numa estratégia de médio e longo prazo. E foi essa estabilidade que permitiu aos empresários acreditar, investir e crescer.
E cresceram. Portugal é hoje um destino turístico consolidado, respeitado e valorizado internacionalmente. O crescimento a que temos assistido é mais em valor do que em volume, fruto de políticas públicas que apostaram em mercados com maior poder de compra, em produtos diferenciadores como o enoturismo, a gastronomia, os eventos, o património natural e cultural. Nada disto acontece por acaso. Acontece porque houve planeamento, visão e vontade.
Ainda temos muitos desafios, sobretudo ao nível da gestão dos destinos e da pressão sobre os serviços urbanos em algumas zonas mais visitadas. Mas é fundamental rejeitar a tentação de transformar o turismo no “bode expiatório” de todos os problemas económicos ou sociais que enfrentamos. O turismo não é o vilão. O problema não é termos muitos turistas e a resposta não pode passar por travar o turismo, mas sim por distribuir mais equitativamente os fluxos turísticos pelo território, investir em novos pontos de interesse fora dos circuitos saturados e reforçar os serviços públicos.
O turismo é um caminho de desenvolvimento e em desenvolvimento — como qualquer caminho, exige manutenção, visão e capacidade de adaptação.
O que falta em Portugal não é menos turismo. É mais estabilidade nas políticas públicas para que outras atividades económicas possam prosperar. Qualquer investimento, público e privado, precisa de previsibilidade, de tempo e de confiança. As políticas públicas, para serem eficazes, não podem parar sistematicamente. Não podem ficar em ponto morto à espera de nova direção. Não podem travar o Pais.
O Turismo tem gerado emprego, atraído investimento estrangeiro, promovido a cultura e valorizado os nossos territórios. E tem, acima de tudo, demonstrado como uma linha política coerente — mesmo com diferentes protagonistas — pode ser a chave para crescer.
Secretária-Geral da AHRESP