Trump prometeu devolver um passado que Musk está a tirar com o futuro
Os movimentos populistas têm conquistado apoio, especialmente entre aqueles que perderam estabilidade com a desindustrialização. Líderes como Trump prometem devolver a segurança e estabilidade do passado, evocando uma época de emprego industrial estável e pertença comunitária.
Esta visão é paradoxal, pois enquanto Trump oferece um regresso à era industrial, Elon Musk, com o avanço da automação e do hiperdigital, destrói essas promessas, ao substituir precisamente os empregos que Trump diz querer recuperar.
Musk e outros impulsionam a transformação digital com a inteligência artificial e a robótica, que tornam totalmente obsoletos os empregos de baixa qualificação. A produção moderna depende cada vez mais de tecnologia do que de mão de obra humana e mesmo que as fábricas fossem reabertas, o número de postos de trabalho não voltaria ao patamar de décadas atrás.
Este paradoxo está no centro da retórica de líderes como Trump, cuja promessa de revitalização industrial é contrária ao progresso tecnológico que Musk representa. Assim, os empregos industriais que antes sustentavam a identidade das classes trabalhadoras e o seu sentido de pertença política estão a ser substituídos por máquinas, distanciando ainda mais o cenário prometido da realidade.
Para lidar com o ressentimento de uma grande massa desencantada, os movimentos populistas defendem políticas protecionistas e valorização da produção nacional, sugerindo que o mercado global e as multinacionais são os responsáveis pela perda de empregos locais. Mas ignoram que a ameaça maior vem da própria revolução digital, que desafia os modelos de trabalho tradicionais e exige novas competências.
A retórica populista de regresso ao passado é ilusória: mesmo com incentivos para reabrir fábricas, o setor industrial depende agora da robótica e da tecnologia digital, que reduz drasticamente a necessidade de trabalhadores humanos.
Este confronto entre a promessa nostálgica de Trump e o avanço implacável de Musk expõe a ilusão de que recuperar a segurança industrial não passa de um fantasma incompatível com a era hiperdigital.
Apesar da Divina Providência tão em voga na política atual, “quem promete o que não pode dar, ao inferno vai parar!”.
Em vez de alimentar essa nostalgia, a solução real para a economia do futuro passa por capacitar a população para a nova realidade digital. Investir em programas de requalificação tecnológica e apoio a indústrias sustentáveis são alternativas que podem dar aos cidadãos o sentido de segurança e pertença que a automação fragilizou.
A verdadeira missão dos líderes políticos será abandonar promessas de um passado irrecuperável e construir um futuro onde a segurança e a inovação possam coexistir, alinhando a população com as exigências do século XXI.
Ao prometer uma era industrial reconstruída, o populismo apenas posterga a adaptação das populações afetadas, alimentando um ciclo de desilusão que se vai pagar muito caro num futuro próximo.