Trump. Já se percebeu de que lado estão as cartas?
Bem pode António Guterres, Secretário-Geral da Nações Unidas, alertar os países, insistentemente, para os perigos que ameaçam o equilíbrio climático do nosso planeta.
São apelos que, praticamente, caem em saco roto ou são ultrapassados pelos interesses financeiros dos países mais poluentes.
A definição das estratégias climáticas das grandes potências passa mais pelas questões económicas do que por razões de sustentabilidade do planeta.
No que respeita os Estados Unidos e à China, dois grandes responsáveis pela poluição no Mundo, convenhamos que nas últimas décadas registou-se uma diferença abissal no modo como estão a desenhar o futuro das suas economias no percurso de uma maior sustentabilidade.
Os Estados Unidos, comandados hoje por Trump continuam numa trajetória de utilização e desenvolvimento de combustíveis fósseis. Trump acha que a independência energética do seu país se fará a custa do petróleo e do gás que tem em abundância. Drill baby drill, uma frase de Trump que ficou famosa pelo que representam os combustíveis fósseis para o atual ocupante da Casa Branca. Está-se nas tintas para o futuro ambiental do seu país e do Mundo. Em Buffalo, Trump forçou a troca de um projeto de 888 milhões de dólares que se destinavam para a construção de um fábrica de veículos elétricos e que vai ser agora, imagine-se, uma fábrica de construção de motores V8 a gasolina.
Não param de crescer as novas autorizações para a exploração de gás e petróleo. Trump e a administração americana comprometem, igualmente, os países amigos da Ásia. Segundo o jornal New York Times, Trump está a exercer fortes pressões sobre o Japão e a Coreia do Sul para que invistam triliões de dólares num projeto de exportação de gás dos Estados Unidos para a Ásia. O atraso de Washington na questão das energias limpas constata-se com o facto de uma fábrica de baterias custar seis vezes mais do que na China.
Talvez o contributo de 78 milhões de dólares que várias companhias de exploração de gás e petróleo deram para a campanha eleitoral de Trump tenha alguma responsabilidade na sua preferência por combustíveis fósseis.
Caminho contrário parece percorrer a China. Sem grandes recursos de petróleo ou gás, os chineses apostam forte nas energias limpas e estão já a milhas de distância em relação aos Estados Unidos.
No ano de 2024 a China instalou mais turbinas eólicas e painéis solares do que todo o resto do Mundo.
Num discreto exercício de soft power a China possui já cerca de 700 mil patentes de instrumentos de energia limpa. Uma das suas maiores empresas, a CATL (Contemporary Amperex Technology Co.Limited) é hoje responsável pelo fabrico de 1/3 de todas as baterias existentes. Simultaneamente os chineses estão a construir 31 reatores nucleares, tantos quantos o resto do mundo está a fabricar.
A construção e exportação de veículos elétricos faz-se já sentir um pouco por todo o mundo numa séria ameaça à velha indústria automóvel norte-americana e mesmo europeia. Pequim já possui fábricas de construção de automóveis elétricos no Brasil, Marrocos, Tailândia e Hungria.
A aposta chinesa nas energias limpas tem o seu expoente máximo na construção de gigantescos parques de turbinas eólicas e painéis solares, como acontece em Urumqui, na zona de Xinjiang, onde a energia limpa produzida é de dimensão idêntica à que um qualquer pequeno país necessita para a sua economia.
A indústria automóvel está, espantosamente, desenvolvida e automatizada. De 2021 a 2023 a China instalou um quantidade de robots do construção automóvel superior ao resto de todo o Mundo. A BYD (Bild your Dreams), uma das mais conhecidas marcas de automóveis chineses tem duas fábricas que, na sua dimensão conjunta, produzem mais veículos do que qualquer dos maiores grupos automóveis europeus, como, por exemplo, a Volkswagen.
O atraso dos Estados Unidos e da Europa é bem visível nos números de exportação de produtos de energias limpas. A China exporta, atualmente, 65 biliões de dólares, enquanto a Europa exporta 26 bi , a Ásia 21 bi e a América 17 bi. No que respeita a exportação de veículos elétricos os números são igualmente, significativos. A China exporta 38 biliões de dólares de automóveis elétricos, enquanto a Europa se fica pelos 26bi, a Ásia 14 e os Estados Unidos 12bi.
Portanto, como Trump gosta de dizer já percebemos “quem tem as cartas”. Enquanto os Estados Unidos se dedicam ao petróleo e a estúpidos exercícios de guerra lançando confusão um pouco por todo o mundo, a sabedoria, discrição, e eficácia chinesas vão construindo o futuro do país que dentro de algumas décadas dará cartas ao Mundo.
Jornalista