Trump contra Harvard

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É o embate de uma venerável instituição de cultura e ensino com a vulgaridade e selvajaria dos bárbaros da Extrema-Direita, como argumentam uns; ou o regresso, pelas mãos de um excêntrico, de alguma normalidade, razoabilidade e senso comum à América, como defendem outros?

A verdade é que Trump não se cansa de nos desconcertar, tudo fazendo para se encaixar, como que displicente e ludicamente, no papel de bárbaro. Um bárbaro que vai mudando a face do mundo e da América como só um bárbaro poderia fazê-lo.

A sua recente perplexidade curiosa perante o “magnífico Inglês” do Presidente da Libéria, por exemplo, escandalizou alguns republicanos tradicionais, tal como as suas “oscilações” em relação a uma guerra que se prolonga muito para além das 24 horas previstas.

Já a chuva de Executive Orders que, a seguir à posse, vieram dar o tom à sua Presidência, tem escandalizado sobretudo o poder estabelecido: a selecção de funcionários públicos passa a depender da competência e o activismo ideológico financiado pelos contribuintes é para acabar, bem como as quotas raciais ou de género, entretanto instituídas. Também no Departamento de Defesa e no Pentágono os transsexuais recebem guia de marcha.

Escusado será dizer-se que esta operação de “reposição da normalidade” para acabar com a radicalidade e os desfechos trágicos de muitos dos absurdos instalados através de legislação avançada – radicalidade que contribuiu para a mobilização do “rearmamento moral” dos americanos comuns – tem vindo a ser muito aplaudida fora da bolha mediática. Mais ainda, a “normalização” trumpiana, ainda que continue a incomodar os poderes e lobbies entretanto consolidados à volta do “empoderamento das minorias”, tem conquistado novos eleitores para os Republicanos, sobretudo entre comunidades tradicionalmente democráticas, como os hispânicos e os afro-americanos.

Com isto, a Academia – vista como berço e agente de uma “tirania progressista” decadente e inquisitorial sob a sigla DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) e de um teatral “activismo pró-palestiniano” – não podia ficar de fora.

Foi assim que a célebre Universidade de Harvard, símbolo, por excelência, dessa Academia, entrou num braço de ferro com a Administração Trump.

Trump e a Secretária da Educação, Linda E. McMahon – que não padecem de masoquismo – recusaram-se a continuar a financiar indiscriminadamente programas contrários aos princípios em nome dos quais foram eleitos, programas que consideram fatais para os valores de orientação que tornaram grande a América e a Academia americana.

Harvard, que é uma instituição privada com fundos de sobra, acumulados ao longo de décadas de donativos e legados, ficou assim sem o costumeiro donativo federal plurianual de 2200 milhões de Dólares, com o qual contava para a gestão corrente.

Vai ter de ser toda uma outra gestão.

Politólogo e escritor

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

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