Trump, Bolsonaro, Le Pen ?

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A França acorda com o resultado anunciado da 1.ª volta da eleição presidencial, mas já ninguém se atreve a prometer a reeleição de Emmanuel Macron. Com menos de 28% e com reservas muitíssimo reduzidas nos partidos republicanos que ainda não tinha afogado completamente, falta muito. Entre o meu partido (Les Republicains), os Ecologistas e o PS, não passamos de 11%.

Os franceses não aprendem. Durante 5 anos andaram a manifestar, a criticar um Presidente que não falava com ninguém, cuja equipa é fraquíssima. Os Republicains explicaram que faltava equipa e projeto, e construíram isso mesmo. Tiveram menos de 5%. Os Ecologistas explicaram a importância da sustentabilidade, de fazer política de outra forma, de falar com os jovens. Tiveram menos de 5%. O PS, bem... estão abaixo de 2%. Macron não ficou nem mais competente, nem mais à escuta, nem mais ciente dos desafios ecológicos. Fala bem. E pouco mais.

Marine Le Pen trabalhou a sua "desdiabolização". Já não fala em sair da Europa, nem do Euro, procura uma forma suave de apresentar ideias que não mudaram.

Em 5 anos, a França evoluiu mal. Ora, os Europeus precisam de uma França que funciona, que sabe dialogar, que constrói com os seus parceiros soluções sociais, diplomáticas, económicas e ambientais. São muitos os desafios: como vamos encontrar o equilíbrio na gestão da imigração, de modo a não prejudicar a imigração legal, bem integrada, culturalmente próxima, como é a imigração portuguesa em França? Não se combate sem enfrentar a realidade, e é a falta de resolução que justifica diretamente a subida dos extremos. Os Franceses têm medo de viver pior que as gerações anteriores. É este mesmo medo que levou ao Brexit. Nem que seja por mera observação geográfica, sem França, a Europa económica e social deixaria de existir, isolando o Sul do Norte face aos seus desafios. A França precisa de ser uma voz da Europa no Mundo. É o único país da União com a arma nuclear, ou com alguma capacidade relevante de projeção militar. A Alemanha levará anos a chegar a uma capacidade similar, e depende de outros para a dissuasão nuclear. Se algum dia a Europa enviar Marine Le Pen a negociar com Putin, com quem se mostrou muito próxima, é que teremos uma Europa muito diferente daquela que achamos que temos hoje.

No plano económico, a Europa enfrenta o desafio de controlar de forma diferente as suas importações, não se deixando invadir por produtos feitos onde não se respeita minimamente as suas normas ambientais ou sociais. Aqui também, a França tem um papel de ponte essencial entre a cultura mais liberal da Alemanha e de alguns países do Norte, que já têm capacidade tecnológica para isso, e dos países do Sul, que precisam de proteção para beneficiar do movimento de re-industralização na Europa. Com Marine Le Pen impera a "préférence nationale", isto é, primeiro compra-se o produto francês. Com Macron, antigo banqueiro, receio que sirva primeiro os interesses dos grupos económicos globais.
Vamos ao ambiente. França já teve uma agricultura fortemente exportadora, já não tem. Durante anos vangloriou-se, e bem, de ter energia nuclear limpa e barata. Macron fechou centrais e agora que se percebeu a sua importância estratégica, vamos levar anos a recuperar o tempo perdido. A França, que conquistou o acordo de Paris, não cumpre as metas a que se comprometeu. A Europa, aqui também, precisa que França tenha ideias claras, fortes, que possa debater com os seus parceiros, para encontrar o caminho sustentável e não deixar mais dívidas às gerações futuras. Evidentemente, Marine Le Pen não quer saber. Mas Macron foi um péssimo Presidente neste campo durante 5 anos e não há qualquer razão para que lhe dê atenção nos próximos anos, agora que cilindrou também os ecologistas.


Presidente do Conseil Consulaire (Portugal)

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