O percurso tarifário de Trump já conta com a sinalização de três datas que marcam os avanços e recuos do presidente norte-americano no seu ímpeto de aumentos tarifários. O dia 2 abril, Dia da Libertação, onde o mundo ficou a conhecer o lançamento da nova arma económica de Trump. O dia 1 de agosto, data oficial da entrada em vigor das novas tarifas, e o dia 7 de agosto em que a esmagadora maioria dos países ficará com taxas aduaneiras entre os 10% e os 41%. Neste percurso foi, particularmente, importante a reunião entre Ursula von Leyen e Trump.A exemplo do que acontece na componente militar a União Europeia surgiu fragilizada na área económica com Trump a ditar condições leoninas no processo negocial das novas tarifas.Nesta negociação não estamos a falar de trocos. A componente negocial em causa representa 44 % do PIB mundial e 50 % do comércio internacional. No encontro com Trump, von der Leyen procurou não esticar muito a corda e, politicamente, manter Trump o mais possível do lado europeu sobretudo devido à questão ucraniana.Como acontece quase sempre a União Europeia não se mostrou unida e à irritação francesa do primeiro-ministro Bayrou, contrapôs-se o pragmatismo do chanceler alemão Merz que defendeu o acordo com o argumento de que este evitou um conflito comercial.O economista norte-americano Paul Krugman, num artigo recente, mostrou a irracionalidade do projeto tarifário de Trump. Krugman deu como exemplo a negociação tarifária com o Japão (já encerrada) que importa, sem tarifas, aço e alumínio usados na sua indústria automóvel, enquanto os empresários do setor automóvel norte americano vão ter de pagar o aço e alumínio tarifado a 50 %, sobretudo nos componentes fabricados noutros países, tornando, assim, a indústria automóvel dos Estados Unidos mais cara e menos competitiva. Na negociação entre Trump e von der Leyen foram fixadas tarifas a 15 por cento, justamente metade do número inicialmente avançado por Trump. As tarifas vão ser aplicadas sobre 70 % das exportações europeias num valor aproximado de 350 mil milhões de euros. Apesar da teimosia Trumpista, von der Leyen conseguiu, em modo de uma modesta contrapartida, uma baixa de tarifas para o setor automóvel que passa dos 27,5% para os 15% assinalando, assim, uma descida de 12.5%. Mas a teimosia de Trump teve o seu expoente máximo quando veio exigir da União Europeia algo que parece ser de impossível concretização. Futuramente, a União Europeia teria de comprar aos Estados Unidos produtos energéticos, tais como petróleo e gás de xisto, no valor de 750 mil milhões de dólares. É uma exigência irrazoável dado que na Europa não existe sequer capacidade instalada para refinar tamanhas quantidades de petróleo e os investimentos em novas refinarias são, financeiramente, muito elevados. A par disso Trump exigiu ainda que a União Europeia adquirisse 600 mil milhões de dólares em equipamentos militares. É claro que isto deixou furiosos os franceses que têm uma produção militar importante e à qual a União Europeia deverá dar prioridade como é lógico.Toda esta febre tarifária de Trump vai ter consequências em todo o mundo num futuro próximo. A economia internacional, particularmente a europeia, não poderá deixar de sentir os efeitos de um aumento de 900 % nas taxas aduaneiras a pagar a Washington, resultante de uma subida generalizada de taxas que tinham um valor médio de 1,75% e vão crescer para os 15 %.Mas há setores empresariais norte-americanos que começam a duvidar desta lógica de Trump. O Fundo Monetário Internacional estima para este ano um crescimento da economia nos Estados Unidos de 1,9% abaixo dos valores de 2024, quando o crescimento foi de 2,8%. Naturalmente que Portugal não escapa às tarifas do “querido líder” Trump e sofrerá os efeitos idênticos a qualquer economia europeia muito dependente das exportações. O calçado, o mobiliário e a metalurgia registam subidas de taxas aduaneiras de 10% para 15 %. Salve-se o facto da cortiça estar isenta do pagamento de taxas. Os Estados Unidos são o terceiro maior mercado de exportação da cortiça portuguesa com uma parcela de 16 % do total da nossa exportação num valor de 182 milhões de euros.Enfim, resta-nos a esperança de que setores empresariais norte-americanos comecem a entender a irrazoabilidade de tudo isto. De Abril para Junho a inflação nos Estados Unidos subiu de 2.3% para 2,7%. Há sinais já preocupantes nos consumidores norte-americanos com uma descida acentuada na marcação de voos e reservas de hotel, num manifesto arrefecimento do consumo. Verificou-se, também, uma queda nos valores da Bolsa de Wall Street.Como consequência deste ímpeto tarifário as empresas estão a contratar menos colaboradores e a popularidade de Trump vai caindo. Por agora as coisas estão assim. Amanhã não sabemos.... Jornalista