Trova do tempo que passa
A direita comunica pouco e a direita comunica mal.
Para que haja democracia importa dar a conhecer aos eleitores as opções que cada força política pretende aplicar casos seja governo -- e assim possam fazer escolhas.
Para isso está regulado que os partidos devem ter acesso aos meios de comunicação, seja através dos tempos de antena definidos na lei, seja através da Comunicação Social, de forma que todos possam em condições de igualdade defender as suas posições.
Contudo, este enquadramento, por si só, não assegura o efeito pretendido.
A comunicação depende, sem qualquer dúvida do acesso aos meios, mas depende também das capacidades de quem comunica, bem como da verdade da própria comunicação: forma e matéria.
Se quem realiza a comunicação tem qualidade de comunicador e nos conta uma mentira, a probabilidade de acreditarmos nela é enorme.
Do mesmo modo, se um mau comunicador nos conta uma verdade, a probabilidade de sermos convencidos por essa informação é praticamente nula.
Ainda mais, se alguém sabe que a comunicação feita por outros não é verdadeira e pretende desmenti-la, necessita de todas a suas capacidades de comunicação para conseguir chamar a atenção dos que já estavam a ser convencidos, para que depois os possa então elucidar.
Pois é aqui que falha a direita.
Enquanto a esquerda se preocupou em aprimorar a forma da comunicação, a direita preocupa-se com o seu conteúdo, o que resulta em que a esquerda vende sonhos e a direita tem dificuldade de passar a sua verdade.
Por outro lado, cada vez que esta direita é confrontada com propostas dos seus adversários, que consideram ser menos rigorosas, a sua capacidade de contraposição torna-se muito diminuta.
Já a esquerda aproveita enormemente qualquer deslize dos seus oponentes com uma arte de comunicar que lhe deixa espaço para afirmar o erro e ainda reafirmar a sua posição.
E é a isto que temos assistido nos últimos tempos, desde a marcação de eleições: um governo e um PS que nos diz que tudo aquilo que fez errado vai ser corrigido, ainda que se mantenha a solução governativa de continuidade e a nova liderança seja também responsável por aqueles falhanços. Segundo as sondagens, parece que muitos acreditam.
Assistimos a um governo que concede “pontes” a todo o momento, que dá aumentos de salários acima da inflação e que garante que resolverá os problemas da saúde e da educação (o que não quis fazer durante os últimos oito anos), em contraposição a tudo o que defendeu durante o seu mandato -- e parece que convence muitos.
Assistimos a um Partido Socialista, responsável indiscutível pela realização das próximas eleições, a tentar passar a ideia de que a autoria não foi sua, mas do Presidente da República -- e muitos acreditam.
E não ouvimos quase nada da oposição à sua direita.
Não é que não queiram dizer, é que não se conseguem fazer ouvir.
Se queremos mesmo oferecer um sonho a Portugal, é urgente ser capaz de comunicar.
bruno.bobone.dn@gmail.com