Transportes sustentáveis e turismo que respondam aos anseios dos cidadãos

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A pasta de comissário dos Transportes Sustentáveis e Turismo é especialmente desafiante. Estou neste cargo há apenas dois meses, mas já tive a oportunidade de trabalhar em temas que afetam os europeus quase todos os dias.

A visita que faço esta semana a Lisboa será a minha primeira visita oficial a um Estado-Membro da UE na qualidade de Comissário Europeu e será uma oportunidade valiosa para testemunhar como Lisboa organiza os seus setores dos transportes e do turismo.

Pela primeira vez na história da Comissão, a pasta que assumi inclui “turismo” na sua designação. Para os leitores portugueses, a integração dos setores dos transportes e do turismo não necessita de grandes explicações. O sucesso turístico de Portugal está estreitamente interligado com as suas infraestruturas de transporte, desde as ligações aéreas e de cruzeiros até aos comboios de longa distância, passando pelos emblemáticos elétricos amarelos, as bicicletas partilhadas e os autocarros. Estas infraestruturas apoiam o bem-sucedido setor do turismo e possibilitam a mobilidade das comunidades locais, ligando as pessoas ao trabalho, à educação e às atividades sociais.

À semelhança de outros países, a geografia de Portugal é simultaneamente um trunfo e um desafio. Em 2024, mais de 30 milhões de turistas foram atraídos para o sol, as paisagens e o património cultural de Portugal, tendo o setor do turismo representado 9,6% do PIB nacional. Como porta aberta para o Atlântico, a economia marítima portuguesa tira partido de uma série de atividades, incluindo transporte de passageiros, turismo de cruzeiros, construção naval, energia offshore e operação de terminais de contentores. Apesar dos desafios de competitividade da construção naval a nível mundial, Portugal continua a albergar vários estaleiros navais importantes.

Os portos de Lisboa estão ligados a plataformas em toda a Europa pela rede transeuropeia de transportes (RTE-T) - rede de estradas, caminhos de ferro, portos, aeroportos e vias navegáveis interiores da UE. O corredor atlântico estende-se dos portos da Península Ibérica até aos portos de Le Havre, Brest e Nantes, no norte de França, e às cidades de Estrasburgo e Mannheim, na fronteira franco-alemã. Este é um dos fatores que tornam os portos portugueses tão atrativos para expedidores internacionais.

A RTE-T ainda não está concluída, mas os prazos de conclusão - 2030 para a rede principal e 2040 e 2050 para outros troços - aproximam-se rapidamente. Garantir que os projetos de infraestruturas estão no bom caminho para cumprir estes prazos é, para mim, uma prioridade fundamental.

Estão previstas novas ligações ferroviárias convencionais e de alta velocidade para o corredor atlântico, incluindo a ligação Madrid-Lisboa. Observo com agrado que Espanha e Portugal se candidataram em conjunto a financiamento da UE para estudos prévios destas obras. Para passageiros e mercadorias, fazer 600 km em apenas três horas representaria uma enorme poupança de tempo. E o transporte ferroviário é um meio sustentável de viajar, quase sem emissões.

Como comissário, centro-me no reforço da competitividade e da sustentabilidade dos transportes e do turismo. O avanço da RTE-T contribui para ambos. Prevê-se que os modos de transportes eficientes aumentem o PIB da UE em 2,4%, representando um aumento de 467 mil milhões de EUR até 2050, criando simultaneamente 840 000 novos postos de trabalho.

Porém, a competitividade deve ser acompanhada da sustentabilidade. A expansão das redes ferroviárias de alta velocidade incentivará passageiros e operadores de transportes de mercadorias a optarem pela ferrovia em detrimento de transportes menos sustentáveis. Mas podemos fazer mais para tornar o transporte ferroviário uma escolha atrativa. Por exemplo, a compra de um bilhete para viagens de comboio transfronteiriças devia ser tão fácil como reservar um voo. Estou a trabalhar numa proposta para um Regulamento Sistema de Bilhética Digital Único que visa dar resposta a este problema.

Por vezes, a ferrovia não é um meio adequado. Cada modo de transporte tem um papel a desempenhar na nossa rede de transportes e isso não mudará. Além disso, todos os modos devem contribuir para a redução das emissões globais dos transportes.

No transporte rodoviário, estamos a fazer bons progressos. Portugal deu passos importantes neste domínio. Nos últimos dois anos, a frota de veículos elétricos a bateria do país duplicou para 137 000. No entanto, para manter esta dinâmica, Portugal deve acelerar a implantação de infraestruturas de carregamento.

É mais difícil descarbonizar aviões e navios. A substituição de frotas inteiras não é uma opção, pelo que estamos a centrar-nos nos combustíveis. A partir deste ano, temos metas para o uso de combustíveis alternativos mais limpos por navios e aviões, mas temos de aumentar a sua produção. Espero que outros países se inspirem em Portugal e nos trabalhos em curso em Pataias e em Sines para desenvolver metanol e amoníaco verdes a partir de hidrogénio verde.

Os setores da aviação e do transporte marítimo exigirão investimentos significativos estimados em 61 mil milhões de EUR e 39 mil milhões de EUR, respetivamente, entre 2031 e 2050.

Estamos a elaborar um plano de investimento em transportes sustentáveis que definirá roteiros por modo de transporte e combustível. Pretendo também impulsionar o desenvolvimento industrial de combustíveis na Europa. Importa manter os custos baixos, garantir o aprovisionamento e assegurar a liderança europeia na inovação industrial mundial.

Estamos apenas no início, mas estou confiante de que a visita a Lisboa constituirá uma fonte de inspiração valiosa para o trabalho que tenho pela frente. Contem comigo para trabalhar de forma diligente e colaborativa em prol da competitividade e da sustentabilidade dos setores dos transportes e do turismo, para que correspondam às expectativas e aspirações do povo português e de todos os europeus.

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