Trabalho: maratona e meia

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O trabalho é mais que uma maratona. Geralmente as pessoas começam a trabalhar antes dos 25 anos e a reforma acontece depois dos 66 anos, com tendência de subida. Isto quer dizer que, a maior parte das pessoas, ultrapassa os 40 anos de trabalho.

Embora o trabalho seja muito positivo para a saúde e bem-estar das pessoas, pela parte social, de significado e perceção de contribuição para a comunidade, independência financeira, organização do dia, também é uma fonte de desgaste. É necessário garantir um equilíbrio entre as suas exigências e os recursos que temos para lidar com as mesmas. A verdade é que, segundo a Eurostat, em Portugal trabalha-se em média mais horas que os restantes cidadãos europeus.

O descanso é essencial para garantir a recuperação e a produtividade no dia seguinte. Por isso, é fundamental que haja um ponto final diário no trabalho. Não é benéfico trabalhar dez ou doze horas consecutivamente. Em primeiro lugar, porque não se é produtivo durante tanto tempo. Se é prática, e a carga de trabalho está ajustada, provavelmente haverão muitos tempos mortos ou falta eficiência. Por outro lado, não permite que haja tempo de descanso e recuperação para o dia seguinte. Os fins de semana são essenciais, mas não chegam para este processo de recuperação.

Este ponto final diário no trabalho por vezes é impedido por três variáveis: cultura organizacional - que impede os colaboradores de se sentirem livres para sair às horas estabelecidas porque informalmente está enraizada a ideia de que é preciso ficar até tarde, a falta de autocontrolo - incapacidade de se afastar do trabalho ou de gerir o dia para que consiga recuperar as horas necessárias, ou a tecnologia. Esta pode facilitar ou dificultar este ponto final diário. Se por um lado, na maioria das funções, conseguimos rapidamente aceder ao trabalho através de um telemóvel ou computador e receber notificações, por outro podemos utilizar as ferramentas a favor do nosso descanso (e.g. bloquear notificações). É fundamental criarmos barreiras físicas (mudança de espaço) e psicológicas (regras criadas pelo próprio) que separem o trabalho da vida pessoal.

O custo de alimentarmos diariamente esta dívida com as horas de recuperação é grande e a diferentes níveis. É necessário que nos cuidemos nesta grande maratona como se fossemos atletas de alta competição. Precisamos de ter atenção à alimentação, ao sono, à condição física, mas também à parte social, familiar e à nossa saúde mental. Neste “tempo livre”, também se desenvolvem muitas competências que podem ser úteis em contexto de trabalho, podem-se apoiar causas sociais, enriquecer de uma outra forma. Quando começarmos a colocar todos um ponto final diário no trabalho, ganhamos todos, pessoas, organizações e sociedade.

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