Três reflexões rápidas sobre as eleições

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A primeira circunstância a registar é a vitória inequívoca da AD, que pediu ao eleitorado uma “maioria maior”, ao que este correspondeu atribuindo à coligação PSD-CDS mais 3,2% dos votos e mais 9 deputados que aqueles que tinha obtido em 2024. Registar igualmente a enorme derrota do PS – o grande derrotado da noite eleitoral – que perde 5,3% e 19 deputados na sua representatividade parlamentar. E aqui, na dimensão aritmética dos resultados eleitorais, a primeira reflexão a fazer é a de que estes resultados representam uma alteração da configuração política da sociedade portuguesa que, efetivamente, passa dum cenário bipartidário para um cenário tripartidário no que concerne ao equilíbrio das forças com representatividade parlamentar relevante. Dos tradicionais 70% a 80% dos deputados distribuídos entre PSD e PS, passámos nas últimas eleições para 67% e, nesta eleição, para 62%. É verdade que não é a primeira vez que tal sucede, atendendo a que já assim tinha sucedido em 1985 (em que o PRD ultrapassou 1 milhão de votos e 45 deputados eleitos) mas estas eleições, tão próximas das anteriores, acabaram por consolidar um resultado que se cria de excecionalidade.

A segunda palavra será relativa à governabilidade, a tão propalada estabilidade a que tanto se apelou nesta campanha. Parece evidente que estes resultados não trouxeram uma configuração parlamentar que se possa traduzir num incremento de estabilidade governativa; pode até dar-se a circunstância paradoxal de um aumento de votos e mandatos nos partidos do governo se traduzirem em menor estabilidade por não ser tão evidente a identificação do principal contendor. Estou particularmente confortável com esta apreciação, já que em comentário público feito imediatamente após as eleições de 2024 disse que uma diferença de 1 deputado era exatamente igual à diferença de 20 deputados, desde que essa diferença não representasse o atingimento de maiorias – este resultado, bastante mais confortável e significativo vem, afinal, reforçar essas palavras.

Por último, esta diferente configuração da política da sociedade portuguesa traz algo, que se afirma e consolida, que quero assinalar de modo particular porque se trata de algo porque sempre tenho lutado desde que assumi responsabilidades no Partido Social Democrata – o PSD deve afirmar-se ao centro, como partido charneira da política portuguesa, baluarte da moderação, da esperança, da social-democracia. Estes resultados afirmam o PSD como o partido de centro da política portuguesa, com o PS à sua esquerda, representando toda a esquerda entretanto destruída e nele concentrada, e com o CHEGA à sua direita, representando a sociedade conservadora, radical e populista. É o local onde Sá Carneiro e Pinto Balsemão fundaram o PSD. Este debate sobre o posicionamento do PSD foi já, em tempos não muito remotos, polémico dentro do PSD, com uma fatia que se pretendia afirmar como sendo marcadamente mais de direita. Penso que estes resultados – para mais associados a uma inequívoca vitória eleitoral – colocam um ponto final nesse debate.

* de referir que estes resultados e conclusões não consideram ainda, evidentemente, a distribuição dos votos e mandatos dos círculos da Europa e Fora da Europa

Advogado e ex-deputado do PSD

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