They don’t know what the f*** they are doing
Foi ao modo de um contador oriental de histórias e enigmas que Donald Trump se perguntou, em público, se iria ou não atacar as famosas instalações nucleares do Irão, enterradas em bunkers profundos, numas cavernas de Ali Baba de alta tecnologia, impenetráveis e inexpugnáveis, onde se armazenava o “urânio enriquecido” que daria a Teerão a desejada bomba atómica.
E na madrugada de sábado para domingo os bombardeiros “invisíveis” B-2 lançaram as bombas GBU-57, com mais de seis metros de comprimento e 13.600 quilos, sobre as instalações militares de Fordow, Natanz e Esfahan, que também receberam, a completar a parada, mísseis Tomahawk, vindos dos submarinos norte-americanos.
O ataque dividiu a entourage de Trump, os republicanos e os militantes do MAGA, com alguns, como Tucker Carlson e Steve Bannon, a acharem a medida perigosa, uma cedência a Netanyahu e, pior de tudo, um regresso às políticas dos neocons. Atacar assim o Irão xiita, tinha sido dar um passo que os predecessores de Trump - Clinton, George W. Bush, Obama e Biden - não tinham ousado.
Mas tinham-se envolvido em longas guerras de atrição, com milhares de baixas norte-americanas, no Iraque e no Afeganistão, guerras que acabaram mal para a América e para o Ocidente, e para as comunidades cristãs milenárias, expulsas ou chacinadas no Iraque, com a vergonhosa retirada-fuga de Cabul, em Agosto de 2021, deixando para trás milhares de americanos.
Trump criticou estas políticas que, com a desculpa do “nation building”, pretendiam impôr mudanças de regime, promovendo a exportação forçada da democracia partidária. Foi uma das razões da sua eleição - acabar com estas “cruzadas ideológicas" e pautar a política externa pelo realismo. Mas depois do ataque, tudo ficou em suspenso, aguardando a resposta de Teerão.
Eis se não quando, na sucessão de surpresas, Trump vem anunciar na segunda-feira que conseguiu que os dois contendores - iranianos e israelitas - lhe viessem dizer que queriam a paz. E os porta-vozes oficiais, em Israel e Teerão, confirmavam essa aceitação, permitindo ao presidente americano, em jeito de “missão cumprida”, anunciar num post da Truth Social:
“The cease-fire is now in effect. Please, do not violate it.”
Mas na manhã de terça-feira, com notícias de quebras do cessar-fogo pelos dois contendores, Trump mostrou a sua fúria face às violações, especialmente em relação ao “amigo israelita”, que lançara bombas depois de fechar o acordo; Israel queixava-se do mesmo, em relação aos iranianos. E Trump resumiu e explicou assim a situação:
“We basically have two countries that have been fighting so long and so hard, that they don’t know what the fuck they are doing”.
Falou “curto e grosso”, como dizem os nossos irmãos atlânticos… E, possivelmente com uma ajuda do Emir e do governo do Catar, pôs fim à “guerra dos doze dias”, baralhando comentadores e media, renitentes a reconhecer-lhe mérito. De qualquer forma, conseguiu, pelo menos à primeira vista e por agora, impôr o cessar-fogo.
Politólogo e escritor
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia