Ter lucros é mau?

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Chamam-lhes lucros gigantescos, lucros colossais. Por estes dias, basta olhar à nossa volta e depressa verificamos que não faltam hipérboles e adjetivos superlativos na tentativa de desqualificar os resultados apresentados pelas grandes empresas no 1.º semestre.

Não é um facto novo, nem surpreendente. Portugal ainda não ultrapassou esta obsessão anacrónica contra o bom desempenho comercial e o êxito empresarial e até pessoal. Genericamente, o país desconfia do sucesso, faz questão de o menosprezar, cultivando a ideia estapafúrdia de que, por trás dos resultados positivos, não está o bom desempenho da economia e das pessoas, não está o esforço de ambos, está sim a malandragem dos empresários.

Como já escrevi nesta coluna, do ponto de vista económico, este é ainda hoje o nosso maior bloqueio. É o nosso maior travão, porque é cultural e porque dele nascem vários obstáculos e muitos problemas. Estou a pensar concretamente na pressão tributária sobre as empresas, mas também sobre as pessoas. O Estado encontra neste preconceito a justificação necessária para lançar todo o género e feitio de impostos e taxas, tornando até o que é extraordinário - por exemplo, as contribuições especiais nascidas durante o período da troika para socorrer o país - em taxas e impostos definitivos.

Não é preciso ser-se liberal para reconhecer que este abuso é não apenas injustificado, como gera consequências negativas para o país inteiro: por um lado, viola a confiança entre o Estado e os contribuintes - o que encontra justificação temporária, não tem razão de ser quando se mantém para todo o sempre; por outro lado, sujeita as empresas a um grau de pressão fiscal desmesurado num país que se destaca, entre os seus parceiros europeus, por ser o Camisola Amarela dos impostos.

Naturalmente, este excesso, firmemente ancorado numa espécie de moralismo ideológico, prejudica o investimento e a evolução salarial, dois factos reiteradamente comprovados, além de alimentar um Estado pesado e ineficiente. A elevada presença, nalguns casos a quase omnipresença, do braço público na economia provoca constrangimentos às famílias e às empresas… porque este mesmo Estado não tem revelado capacidade para gerir adequadamente o dinheiro dos portugueses.

Isto não significa que eu negue a existência de problemas, designadamente a necessidade de subir os salários, embora progressivamente. Sublinho, no entanto, que não é sério negar que isso tem acontecido e não apenas no que diz respeito ao salário mínimo. Todos os organismos internacionais o comprovam, apesar de a nossa produtividade arrastar os pés e ficar muito atrás dos países mais competitivos.

Não tenho qualquer dúvida de que os lucros devem ser saudados e compreendidos, ou seja, têm de ser contextualizados (explicados) para não serem demonizados. E também defendo que lucros trazem às empresas uma responsabilidade social acrescida, mas também a oportunidade de poderem investir e competir pelos melhores profissionais.

A maré quando sobe tem de subir para todos. O caminho é este.

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