TAP. A "pele" do governo e o bode expiatório
Christine Ourmiéres-Widener chegou à TAP em junho de 2022, depois do ex-ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, ter "enchido o peito" afirmando que para a TAP viria uma administração resultante de uma ampla consulta internacional. A escolha recaiu em Christine Widener, anterior presidente de uma companhia regional britânica, Flybe Group, (viria a falir) e com um curriculum de três décadas de trabalho no setor da aviação. Tinha então, em relação à TAP, uma tarefa hercúlea em mãos: salvar a empresa portuguesa da maior crise de sempre.
Christine Widener lançou mãos à obra e no terceiro trimestre de 2022 a TAP apresentava um resultado líquido de 111, 3 milhões de euros, correspondendo a uma subida de 182, 8 % face aos 134, 5 milhões de euros negativos registados em igual período de 2021. Em simultâneo, com a aplicação de um ambicioso plano de restruturação, a nova administradora estava a "dar a volta" à TAP.
O caso da choruda indemnização de meio milhão de euros a Alexandra Reis introduziu um fator de entropia e turbulência na TAP. Do desentendimento desta com a Christine Widener a companhia portuguesa de aviação voltou a estar no foco mediático pelas piores razões.
Depois de um relatório do IGF, pedido pelo ministro das Finanças para avaliar responsabilidades na questão da indemnização, a administradora da TAP foi demitida na televisão e em direto. O governo decidiu a "exoneração, com justa causa, do Presidente do Conselho de Administração e da Presidente da Comissão Executiva da TAP".
Perante isto, Christine Widener acionou de imediato os mecanismos judiciais e pede agora uma indemnização de 3, 5 milhões de euros, 1, 5 milhões euros de vencimentos até ao final do contrato e mais 2 milhões de euros devidos pelo sucesso no plano de reestruturação.
Veremos, daqui a uns anos, o resultado judicial das razões invocadas pelo IGF e por Medina para o despedimento por justa causa. Mas, se os leitores querem um conselho amigo talvez não seja má ideia comprarem um porquinho mealheiro e, na vossa condição de contribuintes, começarem a juntar dinheiro para pagar a indemnização à administradora da TAP. É que se os tribunais decidirem dar razão a Christine Widener, lá serão "sempre os mesmos" a pagar pelos erros do Estado. Ou melhor dizendo, do governo.
Afinal a administradora da TAP errou em quê?
Propôs à tutela uma indemnização que foi autorizada por Pedro Nuno Santos, depois de agilizada com o ex-secretário de Estado, Hugo Mendes!
Envolveu no processo de indemnização os mais prestigiados escritórios de advogados do país!
Se o Estatuto de Gestor Público devia ser aplicado no caso de Alexandra Reis, Pedro Nuno Santos e Hugo Mendes não sabiam disso? Nem os seus assessores jurídicos os alertaram? Ou a pressa da autorização por Whatsapp não lhes deu tempo para refletirem, devidamente, no assunto? Assinaram de cruz? Afinal os membros do governo servem para quê?
Não se demite ninguém deste modo, muito menos um quadro internacional em função numa das maiores empresas do país.
Porquê então esta demissão tão atabalhoada e apressada? Porque havia a urgência de encontrar um bode expiatório e passar, rapidamente, "a uma nova fase" da turbulenta vida da TAP. O governo sacrificou a presidente da Comissão Executiva da TAP para salvar a "pele". Era preciso encontrar alguém ao mais alto nível para desviar a atenção dos disparates políticos que Pedro Nuno Santos, Fernando Medina e António Costa andaram a fazer com a TAP. Um destes dias, iremos vender a TAP "a preço de banana", desvalorizada pela ausência de um projeto atempado que colocasse a companhia aérea portuguesa no rumo da sustentabilidade, após a pandemia do Covid, a exemplo do que aconteceu com as suas congéneres europeias. Resta-nos a esperança que a Comissão Parlamentar de Inquérito nos traga toda a dimensão deste caótico dossier.
Jornalista