Sugestões menos óbvias para o verão 

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Chegados à época das férias estivais, permitam-me a partilha de um conjunto de sugestões menos óbvias, mas que podem servir para alimentar o espírito e a curiosidade nas próximas semanas. 

No domínio da portugalidade, é justo realçar a maior romaria que se realiza entre nós, na cidade de Viana do Castelo, com a Senhora da Agonia, de 12 a 20 de Agosto. Ponto alto, o desfile da Mordomia, pelas 16h de dia 14. Imperdível. 

Para os leitores sub-30 a MateusFest, a 29 de Agosto em Viseu, com Matué, Van Zee e DJ Perez, trará, decerto, uma animação diferente ao interior do país. 

Mais a sul, o Azeitão Blue Experience, um festival de música blues a 24 e 25 de Agosto, celebrará uma música mais introspetiva, adequada para um final de tarde cálido. Ou os concertos nas vinhas, na ilha da Madeira, nos dois primeiros fins de semana de setembro. 

No domínio expositivo, convido-vos a visitarem os notáveis museus da cidade de Faro, o museu da Tapeçaria em Portalegre ou a exposição “Sussuro” de Maurizio Cattelan (artista escolhido pelo Papa para representar a Santa Sé na Bienal de Veneza em 2024). 

Ler Lolita em Teerão, de Eran Riklis, arrisca-se a ser o filme deste verão. Sobre um grupo de iranianas que se juntam, em segredo, para lerem autores como Jane Austen ou Vladimir Nabokov, e como estes atos, tão inócuos entre nós, são todo um programa de subversão para o regime teocrático do Irão. 

Para leituras, e para os fluentes em inglês, recomendo duas coisas bem diferentes: The First Gentleman, o terceiro livro escrito a quatro mãos, entre o ex-presidente Bill Clinton e o prolífero James Patterson. Um thriller com um enredo político delicioso como mote. There is no place for us: working and homeless in America, do jornalista Brian Goldstone. Um relato sobre a crise da habitação nos EUA, em que os preços subiram 76% em 14 anos, muito, mas muito acima, do crescimento dos rendimentos medianos dos trabalhadores norte-americanos. Pessoas que trabalham de sol a sol, ganham pouco e têm de dormir ao relento ou no interior de seus decrépitos automóveis. O número oficial de sem-abrigo subestima, nos EUA, a realidade numa proporção de um para seis. Substitua-se EUA por Portugal, onde os preços subiram mais e os rendimentos menos, e percebemos o drama de famílias inteiras a dormir em quartos, em parques de campismo e afins. Famílias de trabalhadores. Esses mesmos que nos servem o café, nos vendem o jornal ou as bolas de Berlim na praia. Esses com que nos cruzamos a toda a hora. 

Num outro registo, vale a pena ler o vencedor do prémio Leya de 2024. Este prémio é um dos poucos que ambiciona cobrir toda a lusofonia, tendo premiando autores lusos, mas também brasileiros (Murilo Carvalho, Celso José da Costa) e moçambicanos (João Paulo Borges Coelho), até agora. 

Pés de Barro, de Nuno Duarte, o premiado desse ano, uma história onde se cruza o início da construção da ponte sobre o Tejo (“Salazar”), uma legião de operários, moradores de um pátio, e várias estórias cruzadas destes e o Portugal dos anos 60, imperial e “orgulhosamente só”. 

Boas férias! 

Presidente do SNQTB - Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários

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