(Sobre)Viver a crédito

Cortar nas despesas reduzindo as perdas de água
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O Planeta atingiu, a 28 de Julho, o limite de recursos naturais disponíveis (em Portugal ocorreu a 7 de Maio), esgotando a sua capacidade de regeneração anual, passando a Humanidade a viver a crédito do Ambiente. E todos sabemos o mau resultado que dá expormo-nos demasiado e continuamente ao crédito...

Na verdade, a Natureza, contrariamente ao que se viu na Banca, não irá falir, pois consegue gerir bem os seus recursos e regenerar-se. O verdadeiro problema é que nós, como "clientes" - e citando uma frase de má memória -, vivemos acima das nossas possibilidades, gastando a um ritmo que não é sustentável.

Atendendo à actual e insana guerra na Europa, com consequências devastadoras para todo o Mundo, parece que a Humanidade optou pela solução mais fácil - a sua própria extinção. Mas eu sugiro algo menos radical: gerir melhor o que a Natureza nos oferece.

De entre as múltiplas facetas desta questão, focar-me-ei apenas numa das mais importantes em Portugal: o desperdício de água para consumo humano.

O primeiro aspecto a reter é de que o actual estado de escassez não pode ser encarado como pontual, pois trata-se de um (e salta a frase da moda)... problema estrutural, agora mais "destapado", consequência, entre outros, de que este ano é o mais seco das últimas décadas - e, com as Alterações Climáticas, estas ocorrências irão ser cada vez mais frequentes.

Uma forma - talvez a mais óbvia - de minimizar o impacto deste tipo de situações é a diminuição do desperdício de água, desperdício esse tantas vezes apresentado como "inevitável" nas redes, acrescendo o insuportável apontar de dedo a quem não fecha a torneira enquanto lava os dentes, culpando os outros da própria ineficiência.

A realidade é esta: em Portugal Continental, do total de água que sai para distribuição, quase 30% é perdida e/ou não paga, e dessa, cerca de 75% (80-90% em pequenos Municípios) é desperdiçada nas redes - o equivalente a cada português deitar anualmente para o lixo cerca de 17.000 litros de água (sim, leu bem, dezassete mil).

Assim, e como se mostrou, a (de longe) maior parcela desse enorme desperdício é a água que se perde no espaço público, essencialmente por não se dar a devida importância à eficiência hídrica, muitas das vezes usada apenas como um bonito chavão.

Torna-se então urgente a implementação no terreno de uma optimização hidráulica e energética das redes distribuidoras, em paralelo com constantes renovações, monitorização e controlo, minorando o desperdício, os custos e o impacto nos recursos hídricos - e se, em diversos Municípios, se têm conseguido reduções do volume de perdas acima dos 50%, evitando-se simultaneamente a sobre-exploração de origens existentes ou mesmo a criação de novas, então isso significa que... yes, we can!

"A água mais barata é a que já foi paga" é, evidentemente, uma "lapalissada". "A melhor origem de água é a de jusante", também. Mas se são "lapalissadas" porque é que estes simples conceitos não são aplicados? Para mim permanece um mistério.

O crédito está a acabar e esta descomunal dívida não é, seguramente, a herança que deveríamos querer deixar aos nossos filhos e netos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

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