Só Lula tem mínimos olímpicos

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Os atletas, a imprensa e o público no Brasil - às vezes em Portugal também - chamam aquele formidável evento que em julho deste ano se realizará em Paris de “Olimpíadas” como se “Olimpíadas” fossem sinónimo de “Jogos Olímpicos”. Não são. Aliás, é o oposto: uma olimpíada é o período entre uns Jogos Olímpicos e os outros, é a fase de treino, de preparação, de qualificação entre a competição de Tóquio, em 2020, e a da capital francesa, em 2024, ou entre esta e a de Los Angeles, em 2028, por exemplo.

Transportados para a política brasileira, os Jogos Olímpicos são as eleições presidenciais, de 2018, de 2022, de 2026 e por aí adiante, e as olimpíadas o dia a dia dos políticos no Planalto, no Congresso, nos governos estaduais. Nesse dia a dia, dependendo da performance, os políticos podem, desde que obtidos os mínimos, isto é, a nomeação partidária, sonhar com recordes, vitórias, medalhas, incluindo a de ouro, ou seja, a vitória nas eleições presidenciais.
No primeiro ano da olimpíada política com vista aos jogos presidenciais de 2026, dois nomes à esquerda já asseguraram, praticamente, os mínimos para concorrer ao Planalto. Lula da Silva, claro, cujo primeiro ano foi “regular”, “estável” ou “positivo”, dependendo da opinião de cada um dos principais jornais brasileiros, somados os desempenhos da economia, a principal surpresa, à segurança pública, ainda o maior calcanhar de Aquiles. No exercício do cargo, dono de notoriedade inigualável e com o PT na mão, só não concorre à reeleição daqui a dois anos se não quiser ou se a idade (terá 80 anos na primeira volta e 81 na eventual segunda) pesar.

Fernando Haddad, o responsável, enquanto ministro das Finanças, pela área que garantiu a principal surpresa a Lula, com números mais positivos do que os esperados pelos mercados, e a aprovação, quase 40 anos depois, de uma indispensável reforma tributária, é a alternativa. Ele, porém, não tem os mínimos, isto é, a nomeação pelo PT (e a máquina partidária, que o vê demasiado ao centro, não morre de amores por ele), garantidos. Depende de Lula, dos seus humores e da sua disposição (ele prefere usar a palavra “tesão”).

À direita, a situação é mais complexa porque o principal candidato, Jair Bolsonaro, está suspenso por, para manter viva a metáfora, uso de doping eleitoral em 2022. Com dezenas de outros processos à perna, entre os quais aquele sob desvio de joias do país para o próprio bolso, Bolsonaro ainda é, no entanto, um dos maiores “puxadores de votos” no Brasil. Ou seja, quem ele apontar como sucessor será um competidor com potencial de medalha.

Mas quem? Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e ex-ministro de Bolsonaro, teve um 2023 errático, dividido entre os agrados à base mais boçal do anterior presidente e uma política liberal na economia e um bocadinho nos costumes. Romeu Zema, cujo governo em Minas Gerais merece forte aprovação local, ao tentar nacionalizar o discurso perdeu-se em gafes. E a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, cujo principal ativo seria a imagem ainda não-contaminada pela política, é, afinal, investigada também no caso do desvio das joias.
As Olimpíadas, ao contrário dos Jogos, que só duram um mês, são uma longa maratona de quatro anos, mas já se pode dizer, por ora, que só Lula é candidato à Medalha de Ouro em 2026.


Jornalista, correspondente em São Paulo

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