Só juntos vencemos o lixo
A Higiene Urbana é evidentemente uma das maiores preocupações de Lisboa, com críticas quase generalizadas daqueles que aqui vivem, trabalham e visitam.
O atual executivo municipal, obviamente, não foi poupado, ainda que tenha sido dos Executivos que mais investiu no esforço para limpar a cidade, desde logo com a contratação de mais de 300 cantoneiros de limpeza e motoristas e do reforço das suas remunerações, sem falar nas vários equipamentos e veículos adquiridos neste mandato.
E se os dados da PORDATA demonstram que os últimos dois anos viram um crescimento da quantidade de lixo recolhida pelos serviços municipais, a verdade é que constatamos que, aparentemente, existe sempre mais lixo por recolher.
Então o que poderá estar errado?
Desde logo, do lado da cidadania, aqueles (certamente poucos) que conhecem o Regulamento dos Resíduos Sólidos da Cidade de Lisboa (Art.º 19.º), verificam a enorme complexidade (leia-se disparidade) dos horários de colocação “do lixo” na rua e os horários em que ocorre a sua recolha. Complexidade essa que certamente contribui para a sua confusão.
Já junto dos que pretendem servir essa população, vai valendo que a experiência autárquica ensina a dicotomia entre disponibilidades e exigências.
Do lado das disponibilidades está um orçamento assente em receitas que o Estado distribui pelos municípios onde a fatia principal (e parca) tem como base a população residente.
Do lado das exigências está uma população residente de cerca de quinhentos e cinquenta mil habitantes, ao que se soma uma população de cerca de um milhão e quinhentos mil que todos os dias entra em Lisboa, fruto do movimento pendular gerado para esta cidade, turismo e serviços.
Cruzando estas realidades constatamos enormes desconexões.
A primeira evidência dessas conexões está no modelo de gestão instituído.
Se por um lado, o Regulamento obriga a que os lisboetas coloquem os seus resíduos na rua só a partir das 19:00 porque o período de recolha é noturno e madrugada. Isto significa que durante o período diurno, onde a população da cidade de Lisboa quadruplica, onde o comércio gera enormes quantidades de resíduos, as respostas estão condicionadas pelo próprio regulamento municipal.
Por outro lado, a eventual imprevisibilidade resultante dessa quadruplicação da população, já que não segue o padrão de deposição residencial com que os serviços municipais lidam todas as noites, frustra qualquer resposta tradicional, cujo reflexo assistimos diariamente.
A outra grande evidência dessas desconexões está no modelo de financiamento das autarquias, rígido, inflexível, indisponível para reconhecer que as cidades são dinâmicas, com enormes flutuações das populações, que no caso de Lisboa chega ao extremo de receber financiamento para recolher resíduos criados por apenas um quarto das pessoas que vivem, trabalham e visitam a cidade.
Em Estrela, desenvolvemos a aplicação "Chame o Lixo", que permite a qualquer um solicitar, através de uma simples foto georreferenciada, a recolha de sacos de lixo, ativando os nossos serviços para o efeito. Esta proximidade com os cidadãos, permite uma gestão muito mais eficiente.
Mais recentemente iniciámos a introdução de sensores em todas as papeleiras da freguesia, transformando as atuais papeleiras em papeleiras inteligentes. Somos o único território a nível europeu onde todas as papeleiras irão comunicar níveis de enchimento, criando a previsibilidade, e mesmo alertando para o incêndio destes equipamentos.
Este tipo de sistema de sensorização também pode ser implantado em outros equipamentos, como eco-ilhas, ecopontos ou contentores, permitindo resposta em tempo real e rotas de recolha otimizadas, reduzindo as emissões de CO2.
Não podemos continuar a trabalhar com circuitos e procedimentos quase dos anos 80, quando a realidade de hoje e das cidades de amanhã exige soluções muito mais sofisticadas.
Temos muito a percorrer neste caminho de higiene urbana, mas o futuro de Lisboa será certamente mais limpo e sustentável com a participação ativa de todos.