Só a mobilização pode evitar Trump

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A corrida parece estar a virar para Trump. Mas calma: as diferenças são tão curtas que tudo pode mesmo ainda acontecer. O empate técnico mantém-se. Por outro lado, Kamala Harris mantém-se à frente no voto popular (já sabemos que não garante a eleição, mas é melhor estar com mais votos do que estar com menos votos).

Dito isto, há uma tendência clara na última semana: Trump a subir ligeiramente nos estados decisivos, Kamala a descer ligeiramente nos estados decisivos. Se as eleições fossem hoje, provavelmente Trump ganharia o Colégio Eleitoral. É game over? Não, claro que não. Faltam três semanas e dois dias e basta que a mobilização do lado democrata acorde. Kamala Harris ainda pode vir a ser a primeira mulher Presidente dos EUA. Mas tem de corrigir o que está a correr mal. E, neste momento, algumas coisas estão a correr mal na campanha democrata. Obama já esteve na Pensilvânia, Bill Clinton vai juntar-se ao terreno de campanha já este fim de semana. Os últimos trunfos ainda serão jogados.

O que vai decidir? Não sabemos. Só nos resta presumir: o escalar do conflito no Médio Oriente, os furacões Helene e Milton e respetiva desinformação lançada pelo campo Trump/Vance podem prejudicar Kamala; o relatório Jack Smith, que especifica a presumível culpa de Trump no ataque ao Capitólio, pode prejudicar Donald. Mas... e se acontece algo mais que não estejamos a ver?

Emprego a acelerar, inflação a baixar

O mercado de trabalho dos EUA criou muito mais empregos do que o esperado durante o mês de setembro: 254 mil novos postos de trabalho, 104 mil acima dos 150 mil que os economistas previam. A taxa de desemprego caiu uma décima, estando agora nos 4,1%, o que revela um mercado de trabalho nos Estados Unidos muito mais robusto do que Wall Street esperava. O crescimento dos salários, medida importante para medir as pressões inflacionistas, subiu para 4% em termos homólogos, face a um ganho anual de 3,9% em agosto. Numa base mensal, os salários aumentaram 0,4%, em linha com a leitura de agosto. Os restaurantes e bares lideraram a criação de empregos no mês, com a indústria hoteleira a adicionar 69.000 postos de trabalho em setembro, após uma média de apenas 14.000 nos 12 meses anteriores. Os cuidados de Saúde, um líder consistente no crescimento do emprego, contribuíram com 45.000, enquanto o Governo cresceu 31.000.

A grande ironia é que os EUA estão numa fase de crescimento económico, crescimento do emprego e descida da inflação, mas... o tema que mais desconforta a candidata democrata, vice-presidente da atual administração, é precisamente a Economia. Será que as próximas semanas serão suficientes para que grande parte dos americanos altere essa perceção? Não é, para já, o que as sondagens dizem. Trump lidera no tema Economia por diferenças de 8 a 15 pontos percentuais - e quase dois terços dos americanos afirmam que se sentiam melhor financeiramente com Trump que com Biden.

A estatística da inflação também confirma o bom momento económico nos EUA: a taxa de inflação continuou a arrefecer em setembro para o nível mais baixo em três anos. Os economistas previram que a inflação desaceleraria para 2,3% numa base anual. Ainda assim, a tendência de descida continua a registar-se. Os chamados preços básicos, que excluem medições mais voláteis da gasolina e dos alimentos para melhor avaliar as tendências de crescimento dos preços, subiram 0,3% numa base mensal e 3,3% em comparação com o ano anterior - ligeiramente acima das expectativas dos economistas de 0,2% e 3,2 %, respetivamente.

Inflação e Imigração no topo de Arizona e Nevada

Joe Biden venceu, em 2020, o Arizona por pouco mais de 10 mil votos e o Nevada por 33 mil. Mas Donald Trump tem surgido à frente no Arizona e a disputar taco a taco o Nevada com Kamala. Porquê? Possivelmente por isto: inflação e imigração são os dois temas no topo das preocupações dos eleitores desses dois estados. No Nevada, 37% dos latinos disseram que a inflação era a sua principal preocupação. A imigração foi a segunda maior preocupação, com 17%. O partidarismo extremo em todo o país também foi uma grande preocupação entre os eleitores latinos, com 12% a afirmar que a sua principal prioridade é unir o país. O aborto foi a quarta maior preocupação dos latinos em Nevada, com 8%. A inflação foi a principal prioridade para os eleitores latinos no Arizona, com 29%, seguida pela imigração, com 15%. O aborto foi a terceira maior preocupação. Ora, olhando para esta hierarquia de prioridades, percebemos que os dois temas onde Trump surge melhor que Kamala estão nos dois primeiros lugares das prioridades dos eleitores desses dois estados, enquanto questões como a proteção da democracia ou o direito ao aborto, onde Kamala desempenha bem melhor, tendo o seu espaço, estão colocadas em lugares secundários.

Problemas Kamala: homens latinos jovens e classe trabalhadora

Não está fácil o caminho de Kamala Harris para a Casa Branca. Ainda é possível, mas parece ser um pouco menos provável do que há um ou dois meses. A candidata democrata está a perder fôlego em dois dos três estados da Rust Belt (Wisconsin e Michigan), sem os quais dificilmente conseguirá derrotar Trump, que mantém pequena, mas consistente vantagem na Sun Bult. Porque ambas as coisas estão a acontecer?

Duas possíveis explicações: o problema da campanha Harris em agarrar a classe trabalhadora no Michigan e a perda de votos nos homens latinos jovens. Trump e JD Vance têm feito várias aparições no Michigan, estado onde ambos mais vezes estiveram nas últimas três semanas. Já quanto à desvantagem de Kamala para Trump na Sun Belt, vejamos estes dados: Kamala está a perder o apoio entre os jovens latinos, embora continue a liderar nos eleitores hispânicos no Arizona e Nevada - dois estados-chave que ajudarão a definir as eleições. Um em cada quatro eleitores no Arizona e um em cada cinco em Nevada são latinos.

Estudo USA TODAY/Suffolk  aponta: mais de metade - 57% - dos eleitores latinos no Arizona disseram que planeiam votar ou inclinar-se para Harris, enquanto 38% disseram que se inclinam para Trump. Harris também lidera Trump entre os eleitores latinos no Nevada, 56% a 40%. Mas agrava-se a disparidade de género entre os apoiantes dos dois candidatos - com Trump a ver mais apoio entre os jovens latinos com menos de 50 anos e Harris a encontrar mais apoio por parte das mulheres. No Arizona, 51% dos homens latinos entre 18 e 34 anos disseram apoiar Trump, enquanto 39% dos homens latinos com idades entre 18 e 34 anos apoiam Harris. Entre os homens latinos com idades entre 35 e 49 anos no Arizona, 57% disseram que apoiam Trump, em comparação com 37% que apoiam Harris. A repartição foi semelhante no Nevada, com 53% dos homens latinos com idades entre os 18 e os 34 anos a apoiarem Trump e 40% a apoiarem Harris. Esses números foram quase idênticos para homens latinos com idades entre 35 e 49 anos: 53% para Trump e 39% para Harris. Já as mulheres latinas preferem Harris a Trump em todos os segmentos etários. 62% das latinas com idades entre 18 e 24 anos disseram apoiar Harris, com 33% para Trump. 

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