Será possível falar do futuro?
Com uma profunda crise política instalada no país o que temos de fazer, agora, é pensar no futuro. Não adianta muito "chorar sobre o leite derramado."
Os socialistas que, de momento, se queixam do Ministério Público (MP) e do seu modo de actuação, suportaram um governo que durante nove anos nada fez para alterar a configuração institucional do MP. Se queriam mexer no assunto bastava olhar aqui para o lado, para França, onde existe uma relação hierárquica do MP, relativamente, ao governo. Talvez isso tivesse ajudado a balizar a actuação do MP
Por agora, serão cinco penosos meses em que vamos estar em campanha eleitoral.
Tenhamos, neste período, a secreta esperança de que os partidos, de uma vez por todas, falem dos problemas do país. Que deixem a habitual e estéril conflitualidade política e que nos indiquem quais as suas propostas para solucionar os constrangimentos do país. Para que os portugueses possam fazer uma escolha criteriosa e não votem por meros chavões partidários e sound bites políticos.
Pois bem, vamos então ao menu de alguns dos problemas, meros exemplos, para os quais seria tão frutuoso encontrarmos respostas que nos possibilitassem escolhas bem fundamentadas.
Por exemplo, como acelerar a execução do PRR, a bazuca, lembram-se? Execução que, actualmente, deveria estar nos nove mil milhões de euros e não vai além dos dois mil e oitocentos milhões de euros. Bastante atrasada portanto!
Digam lá os candidatos a primeiros-ministros o que vão fazer com a carreira dos médicos, tão essencial ao SNS. Vão dar o aumento de vencimentos de 30 por cento pedido pelos Sindicatos? Qual a solução que têm para a reorganização do SNS?
Na ferrovia o que propõem relativamente ao TGV? Como vão acelerar a requalificação da linha da Guarda que se encontra manifestamente atrasada? Vão concluir, ou não, a compra, planeada, mas sempre adiada, dos 12 comboios de longo curso e dos 17 regionais? Que projecto têm para a ferrovia?
Qual a ideia dos candidatos a primeiros-ministros quanto à qualidade dos serviços públicos? Maior investimento do Estado criando as condições para que os portugueses não passem horas em longas filas para obterem um qualquer documento!
E o que têm os candidatos a dizer, relativamente, ao desenvolvimento da economia do mar? Devemos ou não aumentar a nossa frota pesqueira? Ou vamos, em alternativa, apostar no desenvolvimento dos sectores emergentes da biotecnologia azul e nas energias renováveis oceânicas? Importam-se de nos dizer alguma coisa sobre isso?
Na maltratada área da Justiça vão, de uma vez por todas, introduzir reformas no combate à corrupção e ao tráfico de influências? Dirão, alguma coisa, sobre medidas que, nos julgamentos, condicionem os recursos dos advogados de defesa, por vezes, responsáveis pela morosidade da Justiça.
E vamos, finalmente, ter um novo aeroporto? Haverá assunto mais importante do que decidir um constrangimento nacional com a idade de 50 anos e escolher um local para um novo aeroporto? Será possível, durante a campanha eleitoral, ter algumas ideias definitivas sobre o assunto?
E a agricultura uma área que parece estar há anos sem ministra. Qual a proposta que os candidatos têm para libertarem os agricultores que dependem das ajudas do Estado em 60 % do seu rendimento? Que propostas vão apresentar no apoio aos jovens agricultores do interior do país?
Estes são alguns exemplos do que pode ser a matéria de trabalho para a campanha eleitoral. Poupem-nos, por favor, à gritaria e à discussão das habituais banalidades da conflitualidade política.
Será pedir demais a todos os candidatos que os cinco meses que aí vêm sejam usados a pensar no futuro de Portugal?
Jornalista