Semana negra

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Que não haja dúvidas: os violentos ataques a imigrantes no Porto tiveram natureza racista.
Uma turba de 10 a 15 pessoas invadiu uma casa durante a noite para espancar os seus habitantes, além de atacar outros imigrantes na rua.

Não é coincidência que pelo menos parte dos alegados agressores (identificados pela PSP) sejam membros do Grupo 1143, conhecida organização ultranacionalista e neonazi, cujo porta-voz é o mais conhecido neonazi português, Mário Machado.

O ataque é sinal dos tempos que vivemos.

Os peritos apontam para o facto de a normalização do discurso da extrema-direita ter sempre como consequência o aumento da violência política e contra minorias. E os resultados eleitorais da extrema-direita em Portugal mostram que esse discurso está mesmo a ser normalizado. Acresce que a direita tradicional está também a contribuir para essa normalização, com uma grande parte do PSD (não é apenas Pedro Passos Coelho) a defender posições que deveriam merecer o repúdio imediato de qualquer democrata.

O mesmo tem sucedido em muitos países. Apenas nos últimos dias registaram-se ataques racistas na Bélgica, ameaças de ódio em Espanha e o ataque a um meu colega eurodeputado alemão, quando realizava uma ação de campanha. Felizmente a cirurgia correu bem e deverá recuperar.

Que sociedade é esta em que o facto de se ter uma origem diferente ou uma determinada opção política pode tornar alguém alvo de violência? Estarão os valores civilizacionais a regredir na Europa? Que contributo têm as redes sociais e como lidar com isso? Qual o papel da comunicação social, cujo registo se aproxima cada vez mais às redes sociais?
Se queremos salvar a democracia - que não se restringe apenas à eleição por voto universal e tem de compreender o respeito pelos valores fundamentais - temos de refletir sobre como travar esta tendência. E temos de ter a coragem de passar da reflexão à ação. O que está em jogo é demasiado importante.

Os políticos democratas terão certamente um papel a desempenhar, demonstrando a falsidade dos soundbites dos populistas, que espalham o ódio e não resolvem nada.

A comunicação social tem de ponderar se está a desempenhar o seu papel de mediador crítico; ou se está cada vez mais a ser um simples amplificador de mensagens sem mediação. Dar um megafone aos populistas sem mediação não é bom jornalismo, é apenas uma plataforma de difusão do ódio.

As plataformas digitais têm de ser obrigadas a efetivos mecanismos de controlo do discurso de ódio, sob pena de serem cúmplices da violência que através das suas redes é disseminada.

E, finalmente, os populistas que incitam ao ódio têm de ser responsabilizados. Nas urnas, certamente. Mas que haja coragem de agir penalmente sempre que cometem esse crime que está efetivamente tipificado.

Talvez assim tivessem mais cuidado com o que dizem. E talvez o ódio não se propagasse como vemos estar a acontecer.

3 valores: Chega

O anúncio da apresentação de uma queixa-crime contra o Presidente da República por traição à pátria não passa de mais uma artimanha para causar alarido e aparecer nas notícias. São assuntos demasiado sérios para esta paródia. Um desrespeito por Portugal e pelos portugueses.

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