Segurança sem autoridade, segurança sem ordem
Muito se falou durante a última semana e, diria eu, muito se disparatou sobre a trágica morte de Odair, que todos deveríamos pesar, mas sem nos precipitarmos em julgamentos sumários que condenam precipitadamente a atuação dos polícias, aproveitando a ocasião para vestir todos os demais com um manto de desconfiança e descrédito e, pior, regando a velha narrativa do racismo, fragilizando o caráter e compromisso que milhares prestaram, jurando defender e proteger todos, mesmo que para isso tenham que abdicar da sua vida. E assim se insulta o sacrifício que alguns, todos os dias, dedicam para nos defender. E, chegados aqui, na mente de alguns tudo isso se esquece e tudo o resto se inventa, seguindo um guião iníquo que vários comentadores de pantufa hasteiam, brandindo-o mimeticamente como pretensos soldados da paz, de uma paz podre, de uma paz polarizada, de uma paz onde reina o terror, de uma paz que não dá paz aos nossos cidadãos.
Mas onde fica a responsabilidade dos pirómanos que inflamam o debate? Que incendeiam as ruas, que normalizam a violência? Tudo sob falsos pretextos, falsas razões, falsos factos, mas verdadeiras e conscientes intenções. E dúvidas não tenhamos: não se vem pedir mais proximidade aos polícias quando o que queremos é afastá-los das comunidades, apodando-os de racistas, xenófobos e outras adjetivações de igual calibre, como se o polícia pensasse na cor de quem irá acorrer, do credo da pessoa que irá proteger, na etnia da pessoa que jurou defender. Chega de aproveitamento e manipulação por parte de quem não entende, não percebe, e também não quer perceber, a dificuldade de se ser polícia, e que nestes momentos esquece as centenas de milhares de interações que asseguram, ano após ano, para manter a segurança e a paz social do nosso país. A narrativa chega a ser sórdida quando se reclamam casos do passado, isolados e longínquos, para, como o cancro, promover a sua réplica, querendo dar corpo a um padrão, a uma tese, a um modo de comportamento, a um chorrilho de mentiras que servem para alimentar crónicas de comentadores mais desatentos e colunas de fazedores de opinião parcos em argumentos.
A polícia continuará a ser uma das instituições mais credíveis e confiáveis do país, tal como os seus polícias, isto porque os milhares de vítimas de violência doméstica, de crimes sexuais, de crimes de sangue e tantos outros violentos sabem bem quem as foi socorrer, e não foi nem o Batman nem aqueles que, da bancada, apregoam a sua extinção, fazendo-o, esses, sim, com uso desproporcionado da linguagem e da razão. A força da polícia não reside na possibilidade de poder usar da força, mas sim da desnecessidade de ter de a usar, prevalecendo a ordem e não o caos, o caos que poucos procuram. Mas nem mesmo aí a polícia deixará de responder a esses e a todos nós, cidadãos, sabendo, como sempre soube, aprender e evoluir com os seus erros, tanto quanto o faz com os seus méritos.