Lisboa despede-se de Francisco, um Papa que ficará profundamente ligado à nossa cidade. Desde que assumiu o pontificado em 2013, Jorge Mario Bergoglio revelou uma admiração especial por Lisboa, sublinhada na histórica Jornada Mundial da Juventude de 2023, onde mais de um milhão de jovens se reuniram para o escutar.Com o falecimento ou a renúncia de um Papa, inicia-se o período chamado "Sede Vacante", que significa literalmente "cadeira vazia".É nesta altura que o Decano do Colégio dos Cardeais convoca o Conclave (do latim cum clavis, fechado à chave), no Vaticano, onde apenas cardeais com menos de 80 anos têm direito de voto, permanecendo em total isolamento na Capela Sistina até que se chegue a uma decisão por maioria qualificada (dois terços dos votos).Caso esta maioria não seja alcançada, os votos são queimados juntamente com produtos químicos, produzindo um fumo negro visível na Praça de São Pedro, indicando que ainda não há acordo. Quando um candidato obtém a maioria necessária, os votos são queimados sem os produtos químicos específicos, originando um fumo branco. É o famoso anúncio visual de que Habemus Papam – ou seja, "temos um Papa".Porém, o que parece simples, profundamente espiritual e com regras claras, já foi marcado por controvérsia e por interesses mundanos.Em 1268, após a morte do Papa Clemente IV, a eleição papal arrastou-se por quase três anos, em Viterbo, num impasse político que levou as autoridades locais a trancar os cardeais, racionar comida e até remover o telhado do edifício para os forçar a decidir. Este processo acabou por motivar a criação das regras atuais, instituídas pelo Papa Gregório X.Já em 1377, assistimos a outro episódio marcante. Gregório XI que havia sido o último Papa a residir em Avinhão, França, regressou a Roma, encerrando o chamado Cativeiro de Avinhão (período durante o qual os Papas viveram sob forte influência da monarquia francesa). Porém quando faleceu (1378), o povo romano exigiu que o novo Papa fosse italiano. Os cardeais, pressionados por motins e tumultos, elegeram Urbano VI – um italiano autoritário. Muitos cardeais, sobretudo franceses, arrependeram-se da eleição, alegando que foi feita sob coação.Poucos meses depois, esses cardeais elegeram um segundo Papa, Clemente VII, que se instalou novamente em Avinhão. A cristandade dividiu-se: alguns reconheceram Urbano VI em Roma, outros Clemente VII em Avinhão. A partir daí, durante quase 40 anos, dois (e por momentos três!) Papas reclamaram simultaneamente a liderança da Igreja.O Grande Cisma do Ocidente (como ficou conhecido) só seria resolvido no Concílio de Constança, em 1417.Estes episódios lembram-nos que o processo de eleição do Papa, hoje sereno e espiritual, foi moldado por séculos de desafios e adaptações. E é precisamente esse equilíbrio entre tradição e transformação que nos continua a fascinar. Presidente da Concelhia do PSD em Lisboa