Saudades de um Presidente austero e formal?

Publicado a
Atualizado a

A sondagem que a Aximage realizou para a CNN e a TVI, relativa às presidenciais de 2026, confirmou uma tendência que já se adivinhava. Após quase uma década de Marcelo em Belém, os portugueses parecem desejar que o próximo Chefe de Estado seja alguém com um perfil mais austero e menos dado à política dos afetos. O almirante Gouveia e Melo surge como líder nas intenções de voto, com 21%, seguido de Pedro Passos Coelho, com 14,7%. A alguma distância aparecem Luís Marques Mendes (10,6%), André Ventura (8,8%), Mário Centeno (8,3%), Ana Gomes (7,9%) e Augusto Santos Silva (5,1%).

Muita água poderá ainda correr debaixo da ponte, até janeiro de 2026, pelo que será prematuro retirar grandes conclusões desta sondagem. No entanto, há dois factos que saltam à vista, ainda que as explicações para os mesmos, que se possam dar neste momento, pertençam ao foro da evidência anedótica.

O primeiro aspeto é que após oito anos de Marcelo, os portugueses parecem querer alguém mais distante e austero. Já vimos isto acontecer no final do último mandato de Cavaco Silva como Presidente da República. Cavaco cultivou um estilo mais institucional, austero e distante das massas. Quando Marcelo foi eleito para lhe suceder, gozou de um prolongado estado de graça porque os portugueses engraçaram com o seu estilo mais próximo, menos formal e comunicativo. Basta ver que se a Marcelo todos tratam pelo primeiro nome, a Cavaco apenas a família e os amigos chamarão Aníbal. 

Porém, volvidos estes anos, o estado de graça de Marcelo desfez-se e esse seu populismo soft tem sido usado pelos seus críticos para o atacar. Será por isso natural que, após uma década de Marcelo, surjam como favoritas nas sondagens algumas personalidades que têm um ar mais formal. Além disso, a conjuntura internacional, marcada pela tensão geopolítica e pela incerteza, ajuda a que, pela primeira vez em 40 anos, os portugueses possam vir a eleger um militar. 

O segundo aspeto é que estes resultados dão vantagem à direita pura e dura, com as duas personalidades que mais facilmente terão o apoio do Chega a liderarem as intenções de voto. Isto coloca um desafio a Luís Montenegro, que eventualmente preferiria um candidato mais alinhado com a sua AD. Que fará Montenegro se Passos for o possível candidato mais bem posicionado na sua área política? Já para o PS, não é um cenário muito mau, ao contrário do que poderia parecer à primeira vista, pois o favoritismo de Gouveia e Melo e de Passos será o melhor pretexto para arregimentar o povo de esquerda em torno de uma figura como Mário Centeno.

Dito isto, de facto ainda é muito cedo para fazer prognóstico, até porque até janeiro de 2026 muito pode acontecer. Entre outros aspetos, o almirante terá provavelmente muitas “cascas de banana” que lhe serão lançadas no caminho e a conjuntura internacional pode mudar para o bem ou para o mal. Veremos.

Diretor do Diário de Notícias

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt