Ruído nas decisões e atraso económico

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Em todas as esferas da vida social é necessário tomar decisões. Decisões com base no juízo, no discernimento, na experiência de quem as toma.

Decisões tomadas pelo médico ao determinar o diagnóstico do paciente, pelo juiz ao lavrar a sentença, pelo recrutador que escolhe o candidato ao emprego, pelo político que define uma estratégia, pelo empresário que resolve fechar a empresa, pelo trabalhador que opta por outro empregador, pelo jovem que escolhe que curso seguir, milhares de decisões são tomadas todos os dias a todos os níveis da sociedade.

Algumas têm um alcance vital, são de vida ou morte como o diagnóstico médico, outras tem efeito prolongado como as estratégias políticas ou a escolha dos estudos, umas envolvem apenas a pessoa que a toma, outras afetam terceiros.

O desenvolvimento da sociedade depende em larga escala da correção desses milhares de decisões. Se os médicos se enganarem muitas vezes teremos uma esperança de vida menor, se os empresários decidirem mal constantemente teremos uma sociedade pobre e de baixa produtividade, se os políticos se equivocarem teremos austeridade, se os recrutadores falharem sistematicamente teremos empresas inviáveis.

Daniel Kahneman, Prémio Nobel da Economia, tem vindo a desenvolver um trabalho notável no estudo de como os seres humanos tomam decisões, tendo concluído que as pessoas não são inteiramente racionais e que as decisões sofrem muitas vezes de dois tipos de erro: o enviesamento e o ruído. Reduzir estes dois fatores aumenta a qualidade da decisão e torna a sociedade mais eficiente e mais justa.

O ruído é a dispersão das decisões em face de circunstâncias semelhantes. O enviesamento é o erro sistemático numa dada direção.

Por exemplo condenar os Negros a penas mais elevadas do que as atribuídas aos brancos pelos mesmos crimes é enviesamento. Um enviesamento racista, facilmente demonstrável em Portugal cujas cadeias tem uma desproporcionada percentagem de Negros. Nunca recrutar um trabalhador Cigano é outro enviesamento racista, muito presente em Portugal.

Um exemplo de ruído pode encontrar-se nos diferentes diagnósticos feitos por médicos diferentes. Ou dois recrutadores diferentes em que um aprova o candidato e outro o recusa.

Segundo estudos internacionais, no caso dos recrutadores que usam a técnica da entrevista não estruturada, a taxa de acerto é de cerca de 50%, equivalente a atirar moeda ao ar. O valor acrescentado do recrutador é, assim, próximo de zero.

No seu livro Ruído, Daniel Kahneman, avança uma série de estratégias de melhoria da qualidade da decisão através da redução do ruído.

Seria importante que as empresas, as instituições públicas e os políticos estivessem conscientes dos fatores que levam a decisões inconsistentes e erradas e aprendessem a corrigi-los.

Pelos resultados alcançados Portugal tem, necessariamente, uma elevada taxa de decisões erradas. É, pois, indispensável começar a melhorar a qualidade da decisão.

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