Ronaldo: a “estrela” à procura de um caminho

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Ponto prévio: este texto focado em Cristiano Ronaldo foi escrito antes do Portugal-França dos quartos-de-final do Europeu de futebol que se realiza na Alemanha. Portanto, não é sobre o seu desempenho no jogo, se marcou, correu, passou ou foi egoísta. É sim sobre um atleta que concentra todas as atenções e análises ao seu desempenho há muitos anos e sobre o qual muitos se questionam em relação ao seu futuro e às opções do selecionador Roberto Martínez. E o seu futuro…

Na quinta-feira no site do diário inglês The Guardian podia ler-se um texto cuja tradução do título era O espetáculo de Ronaldo é imparável e reduz os outros jogadores a um papel secundário. E esse é o ponto essencial que se discute agora no Europeu, apesar de não ser um tema novo.

Desde 2003, quando foi contratado pelos ingleses do Manchester United, até hoje Ronaldo tem estado sempre sob o foco mediático ao ponto de praticamente tudo o que faz - desportivamente ou não - merecer um grande destaque.

São mais de 20 anos na primeira linha ao mais alto nível desportivo e isso tem os seus custos, como o próprio deve saber.

Ronaldo não é o único grande futebolista “produzido” pelos clubes nacionais, mas é aquele que melhor conseguiu fazer render o estatuto que foi conseguindo ao longo dos anos, e a esse facto não será, certamente, alheio o aconselhamento e acompanhamento que durante grande parte da carreira terá tido, além, claro, da sua própria personalidade, que começou a ser forjada pelas dificuldades que passou quando criança e adolescente.

Também não é o único desportista nacional a conseguir grandes resultados internacionais. Aliás o destaque recebido até acaba por ser injusto para os atletas de outras modalidades que conquistam medalhas e marcas de grande valor, seja na canoagem, atletismo, ciclismo, futsal, só para referir algumas.

A grande questão atual é que Ronaldo é… Ronaldo. Ele “seca” tudo em seu redor. No final do jogo dos oitavos-de-final do Euro o tema de conversa não era, essencialmente, a vitória frente à Eslovénia, mas sim o desempenho do jogador do Al-Nasser: a grande penalidade falhada, a forma física, a preponderância no jogo, se devia ter sido substituído em vez de Vitinha. Quando, na realidade, o homem do jogo foi o guarda-redes Diogo Costa que defendeu três grandes penalidades.

E aqui voltamos ao texto do Guardian: “Há um fascínio sempre que as lendas desaparecem, observar como eles reagem à redução dos seus poderes. (…) Decadência tem o seu fascínio. O que os românticos vêm em abadias em ruínas, outros verão na figura de Cristiano Ronaldo.”

O próprio já disse que este será o seu último Europeu, uma confirmação que não terá surpreendido ninguém, pois aos 39 anos e com tantas épocas ao mais alto nível, mesmo com todos os cuidados mentais e físicos que tem, não se espera que tenha o desempenho de muitos dos seus atuais companheiros na seleção nacional.

Percebe-se que queira estar sempre na linha da frente, dá a cara pela equipa, irrita-se quando é substituído - o antigo responsável pela seleção Fernando Santos que o diga - ou quando as jogadas e os livres não lhe correm de feição. Mas, Ronaldo também tem de perceber que aos poucos vai ter de encontrar o seu caminho desportivo.

A influência na equipa é real e a sua experiência importantíssima, mas não nos podemos esquecer de que a seleção nacional é formada por atletas que jogam em alguns dos melhores campeonatos europeus. Portanto, habituados a grandes palcos e a desafios com muita pressão dentro e fora do relvado.

Pelo que já fez pelo desporto português, Cristiano Ronaldo merece mais do que ser alvo de críticas pela sua movimentação (ou falta dela) em campo. Merece respeito, mas também tem de perceber que atualmente o seu papel na equipa será outro. Mas, esse é um caminho que o próprio tem de procurar, encontrar e seguir. É também nessas escolhas que as lendas desportivas se distinguem.

Editor executivo do Diário de Notícias

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