República Democrática do Congo - “Mais advogados e menos tropas da ONU”!
Em rigor, trata-se de uma nova fase, a partir da que foi iniciada em 2021 (o início do início, data de 2012), com os avanços do Grupo M23, rebelde e apoiado pelo Ruanda do Presidente (PR) Paul Kagamé. A razão oficial que sustenta esta ingerência ruandesa no leste (Kivu Norte) da República Democrática do Congo (RDC), não se prende, antes, pendura-se, na defesa das diferentes comunidades tutsis em ambos os lados da fronteira.
Primeira nota, relativamente à questão étnica, Vava Tampa, activista dos direitos humanos no Congo, ironiza com um: “Não há um problema étnico no Congo, há cerca de 500 etnias no país e somos todos minorias. Não há um grupo maioritário, preponderante perante os restantes!”
Segunda nota, certamente a razão para a ingerência ruandesa no Kivu Norte, encontra explicação, onde a doutrina não diverge, nos omnipresentes recursos minerais em qualquer légua de terra africana! Com o M23 “a cantar as Janeiras” em Goma, desde 27 último, tratou-se do passo inevitável após ocupação da Mina de Rubaya, o maior produtor de Coltan do mundo. De acordo com especialistas das Nações Unidas, quem controla esta mina recebe, só em “impostos”, 800 mil dólares mês!
Terceira nota, as consequências inerentes a esta contradição entre “protecção de tutsis versus Coltan”, quem ficou com a vida insuportável são os tutsis congoleses!
Um Tribunal Criminal Internacional para o Congo, a MONUSCO, a Missão de Estabilização na RDC, será certamente o maior esforço militar onusiano em África, não conseguindo evitar os avanços dos rebeldes. Em reacção, as elites congolesas e regionais, sobretudo académicos, cujas ideias rapidamente se disseminam pelos cafés e mercados, pedem “menos soldados e mais advogados da ONU”! Mais, clamam que “este é o momento para a criação de um Tribunal Criminal Internacional para a RDC”. Porquê? Voltamos a Vava Tampa, que justifica: “Já tentámos tudo, tratados de paz, eleições, reunir todas as gangues à mesma mesa e nada funcionou. Nada trouxe qualquer tipo de justiça ou segurança ao povo congolês. Por isso pedimos mais advogados e menos tropas da ONU. Precisamos de um Tribunal Internacional para parar com a impunidade do Senhor Kagamé, que financia este conflito em proveito próprio”!
Muito bem, mas isto leva o seu tempo e, entretanto, o M23 avança para o Kivu Sul. O problema actual tem a ver com a pressão internacional, que não está a acontecer como em fases anteriores. Em 2012, por exemplo, a pouca ajuda que os Estados Unidos deram a Kigali (200 mil dólares), abriram as portas às pequenas ajudas da UE através da neutra Escandinávia, Banco Mundial, Banco de Desenvolvimento Africano, todos contribuíram com valores residuais, adiando a tormenta uma década (2012-21). E o que falta agora?
Volto a considerar a oportunidade que este conflito, este ano, abre à presidência da União Africana do PR João Lourenço e à diplomacia angolana. Com votos de sucessos meus Kambas!
Politólogo/arabistawww.maghreb-machrek.pt
Escreve de acordo com a antiga ortografia