Renováveis: o mundo acelera, mas ainda não chega

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O ano de 2024 ficará na história como aquele em que a capacidade instalada de energias renováveis no mundo deu o maior salto de sempre: 585 gigawatts adicionais, com o solar e a eólica a liderarem o crescimento. Quase 97% da nova capacidade vieram dessas duas fontes. Um feito notável. Mas não suficiente.

O grande impulsionador foi, mais uma vez, a China, que, sozinha, instalou mais de metade do total mundial – quase 278 GW de energia solar. É uma escala impressionante, capaz de redesenhar o mapa energético global. E, no entanto, mesmo com este avanço sem precedentes, o mundo está a falhar o objetivo acordado na cimeira climática do Dubai: triplicar a capacidade de renováveis até 2030. O ritmo necessário para cumprir essa meta seria de 16,6% ao ano. Em 2024, ficámos nos 15,1%. Quase lá. Mas, como se sabe, “quase” não chega quando o relógio climático avança sem hesitações.

O planeta dá sinais cada vez mais claros de que o tempo das metas vagamente prometidas já passou. A transição energética precisa de deixar de ser apenas uma intenção declarada e passar a ser uma prioridade incontornável – técnica, política e financeira. Não é só um problema ambiental: é uma questão de sobrevivência económica e geopolítica.

Portugal, nesse contexto, tem razões para algum otimismo – embora moderado. Em 2024, a capacidade renovável nacional cresceu mais de 10%, alcançando os 20,8 GW. A energia solar foi responsável por grande parte deste impulso, crescendo 45% num único ano. O Alentejo consolidou-se como a capital solar do país. E, no conjunto do sistema elétrico, 71% da eletricidade consumida em território nacional tiveram origem em fontes renováveis – contra 61% no ano anterior.

Este desempenho coloca-nos entre os países mais avançados da Europa na transição energética. Desde 2005, Portugal tem seguido uma estratégia coerente e ambiciosa, com metas claras: 93% de eletricidade renovável até 2030 e neutralidade carbónica até 2045. Os resultados de 2024 mostram que o percurso está a ser bem trilhado.

É preciso manter o foco. A expansão da rede elétrica, a estabilidade regulatória, a simplificação de processos de licenciamento e o reforço da capacidade de armazenamento e interligação são cruciais para que o crescimento das renováveis continue sustentável e resiliente.

Comparando os grandes blocos mundiais, a China continua a liderar em volume absoluto, dando escala a uma necessidade global de sobrevivência. Os Estados Unidos, apesar dos sinais positivos do Inflation Reduction Act, avançam a um ritmo mais contido, marcado por tensões políticas internas e uma forte dependência de combustíveis fósseis em vários estados. A Europa, por sua vez, enfrenta o velho desafio de conciliar metas ambiciosas com burocracias nacionais lentas.

O caminho está traçado, os resultados começam a surgir – agora é manter o ritmo, acelerar onde for preciso e confiar que a energia do futuro já está em movimento.

Professor catedrático

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